Aforismo

anúncio

não foi como um vulgar canto

o galo acabou de anunciar,

para mim não foi espanto,

mas não deixo de esperar,

talvez surja um novo muro ou manto,

ou mesmo bomba a rebentar,

só não quero é arcaico pranto,

que possa o mundo, de novo, levar!

mundos

mas quantos mundos existem?

tenho tantos fechados em estantes.

esperando-me

estão calados, mas ainda ali permanecem,

cheios de instantes,

aguardando-me,

são vontades que persistem,

sem ponta de hesitantes,

histórias agarrando-me!

peças

por vezes caiem peças,

bocadinhos,

pequenas coisas,distraídas,

deixadas no chão: soltas,

mas na mesma não te despeças,

guarda os recadinhos,

na mesma são saídas,

espera apenas pelas voltas

não te impeças,

são os teus triunfinhos

talvez acabem caídas,

como tantas revoltas

tanto

tenho tanto para escrever,

mas tão pouco tempo para o fazer,

ficam-me as ideias guardadas,

como que cansadas,

por tanto esperar,

e eu sem conseguir andar!

mas um dia vão todos poder ler,

se tempo acabarem por ter,

talvez o destino dê outras passadas,

 e as palavras se achem rimadas,

 outras gentes até as podem cantar,

se nestas linhas eu, tudo, contar!

rimar

nas rimas,

podemos ser tudo,

mas dizemos só o que sentimos,

sem qualquer obrigação,

as palavras são as nossas estimas,

mesmo que punho se ache mudo,

não é por isso que já não existimos!

porque o escrever continua de coração.

constelações

por vezes um poema não é certo,

longe, como constelações!

nenhuma ponta de nítido,

apesar de o cheiro que emana estar tão perto,

dentro como palpitações,

batendo forte como alto ruído,

e depois sai leve como um aperto,

brilhante como só ele: trovões,

marcando-nos no sentido!

vida

Vida,
vivi, jovem,
trabalhando e pensando
mal, como se tivesse toda uma indefinida,
pois ia tudo bem,
mas então, como que brincando,
a vida pregou-me uma partida,
fiquei-lhe, como que, refém,
lutando e treinando!

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