Amor

Mandei...

Hoje mandei recolher a lua,
apagar todas as estrelas do céu,
hoje eu quero ser tua,
sem que ninguém brilhe mais do que eu...
Hoje só eu vou reluzir,
dentro do teu olhar,
vou acender em ti a noite,
hoje serei o teu luar...

Meus beijos serão archotes,
convites ao teu prazer,
minhas mãos dois candelabros,
cientes do que fazer...
Saberei enfrentar o teu breu,
com a chama do meu amor,
esta noite, tu e eu,
daremos ao firmamento outra cor...

Bem dito...

Bem dito,
o acto irreflectido,
que conduz ao amor,
ele renuncia à razão,
fazendo ao corpo um favor...

Bem dito,
esse infortúnio,
do negar não poder,
o que não faz qualquer sentido,
mas nos enche de prazer...

Bem ditos,
tu e eu,
que nos unimos num só,
e reduzimos a distância,
a partículas de pó...

Bem dito,
cada momento,
que tua pele se junta à minha,
fazendo de ti meu rei,
e eu a tua rainha...

Astro

Astro marinho, de sete mundos ocultos,
Expande a minha vontade além
E toma o meu desejo para o teu ser.

Se o sempre se mostrar horas a mais,
Então transforma vinte e oito sonhos
Num segundo de verdade carnal.

Brilho desse misterioso gigante ondulado,
Reluz do teu elemento a real forma livre
Daquilo que nos meus braços acarinho.

Chromatica

Vermelho é o sangue que atiça corações,
Azul é o mar que afoga mágoas,
Verde foi a esperança lançada ao Céu;
Assim se faz um início de uma tela.

Ao espelho cromático não atrevo
Tentar enganar e seguir minha verdade,
Pois todos os feixes reluzem um lugar,
Esse ocupado é pela tua presente figura.

Resisto feito topázio, aparente durão,
Reflito como espelho de obsidiana a pureza
De sentir neste coração rico como ammolita,
Mas tudo é visível - sempre foi - como um quartzo.

Mar

Primordial benevolente e Parente,
Dono de todo o ser tão carente
Do teu sangue cujo derrame
Varre a terra e purifica o enxame.

Por ti eu observo e paraliso
O coração de pedra... Sim, preciso
A erosão que me salva de mim mesmo,
Refletindo na hemoglobina o meu abismo.

Gota a gota, cai a máscara protetora,
A leal mentira, que concilia dor outrora,
Quando de ti longe fiquei... O dono
Soube como atuar; ligou-nos o oceano.

O que o mar separa, o oceano repara.

Amor, sonho da noite

Ai Céus, Ai Deus,
O onírico concede a paisagem dos olhos teus,
E se acordar - não, não - perco a dádiva de sofrer,
Então antes fico para morrer.

O escuro brilhante do astro marítimo
Faz-me amar aquilo que não se desama,
Encontrar o que não se perde,
Perder-me no infinito muitíssimo verde.

Ai como eu sinto o que não devia
Pois em cada pensamento estás tu,
Invasora acolhida no todo que eu vivia.

'FLERTE ALGORÍTMICO'

Vi tua vida em janelas quadradas,
algoritmo gentil me trouxe você —
como quem assopra cartas embaralhadas
e entrega o naipe que não se pode prever.
Não te conhecia, mas clicava em tua alma.
 
Teu riso num parque, teus pais no Natal,
teu corpo em ginástica, teu dia banal...
E eu ali, pixel a pixel,
invisível e presente —
como espírito da máquina,
fantasma obediente.
 
Puxava assunto, às vezes bobo,

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