Amor

Umbra

Porque continua a penada
Alma, perdida,
A regar um prado
Morto,
Extinto de cores?
Que razão da alma é
Para não largar
Da dor?

O que salva
É a sombra,
Volta e vai solene e bondosa.
Sombra da cor
De uma flor do Amor.

A flor vive, mesmo que morta,
Já que cor é o seu ardor,
E a minha esperança por a ver outra vez
É senão penumbra do meu coração
Em sonhos de saudade.

Noite de luar encoberto

Numa noite tão obscura e empoeirada,
Almas desoladas fazem casa nos prazeres
Pecadores das velhas ruas de sombrios ruídos
E dramáticos afazeres desgostosos.

Perdido neste inferno tão saboroso,
Inquieto e isolado estou, claustrofóbico,
Já que de tanta gente vagabunda no mundo,
Nenhuma se esforça para entender o vazio.

Mas eis que me vem uma familiaridade,
O olfacto captura uma memória terna,
E no instinto eu atuo, recebendo o presente
De quem decidiu fazer-se alguém a mim.

Uma nova aurora

Levantem-se os céus em azulada aurora,
Banham-se as nuvens das novas vontades,
E enquanto o mundo ainda dorme
Salta do leito do descanso uma bela vista.

Dou graças por ainda poder descansar
E saber que posso relaxar.
Aguarda-te o renascer da rotina
Numa paisagem que nunca sabia existir.

É saboroso conhecer esta maravilha
E a ela poder sonhar e amar.

Astro

Astro marinho, de sete mundos ocultos,
Expande a minha vontade além
E toma o meu desejo para o teu ser.

Se o sempre se mostrar horas a mais,
Então transforma vinte e oito sonhos
Num segundo de verdade carnal.

Brilho desse misterioso gigante ondulado,
Reluz do teu elemento a real forma livre
Daquilo que nos meus braços acarinho.

Chromatica

Vermelho é o sangue que atiça corações,
Azul é o mar que afoga mágoas,
Verde foi a esperança lançada ao Céu;
Assim se faz um início de uma tela.

Ao espelho cromático não atrevo
Tentar enganar e seguir minha verdade,
Pois todos os feixes reluzem um lugar,
Esse ocupado é pela tua presente figura.

Resisto feito topázio, aparente durão,
Reflito como espelho de obsidiana a pureza
De sentir neste coração rico como ammolita,
Mas tudo é visível - sempre foi - como um quartzo.

Mar

Primordial benevolente e Parente,
Dono de todo o ser tão carente
Do teu sangue cujo derrame
Varre a terra e purifica o enxame.

Por ti eu observo e paraliso
O coração de pedra... Sim, preciso
A erosão que me salva de mim mesmo,
Refletindo na hemoglobina o meu abismo.

Gota a gota, cai a máscara protetora,
A leal mentira, que concilia dor outrora,
Quando de ti longe fiquei... O dono
Soube como atuar; ligou-nos o oceano.

O que o mar separa, o oceano repara.

Amor, sonho da noite

Ai Céus, Ai Deus,
O onírico concede a paisagem dos olhos teus,
E se acordar - não, não - perco a dádiva de sofrer,
Então antes fico para morrer.

O escuro brilhante do astro marítimo
Faz-me amar aquilo que não se desama,
Encontrar o que não se perde,
Perder-me no infinito muitíssimo verde.

Ai como eu sinto o que não devia
Pois em cada pensamento estás tu,
Invasora acolhida no todo que eu vivia.

'FLERTE ALGORÍTMICO'

Vi tua vida em janelas quadradas,
algoritmo gentil me trouxe você —
como quem assopra cartas embaralhadas
e entrega o naipe que não se pode prever.
Não te conhecia, mas clicava em tua alma.
 
Teu riso num parque, teus pais no Natal,
teu corpo em ginástica, teu dia banal...
E eu ali, pixel a pixel,
invisível e presente —
como espírito da máquina,
fantasma obediente.
 
Puxava assunto, às vezes bobo,

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