Dedicado

a rosa que te dei

a rosa que te dei

 

a rosa que te dei
a rosa que murchou
no dia que chorei
e nada mudou

era a mais bela que vi
era a mais encorpada
olhei-a e percebi
que me sentia culpada

foi com ela que me deixas-te
foi com ela que te recordo
na tua mão a levas-te
do sonho que não acordo

um sonho bem real
que deixou uma saudade imensa
nesse dia mortal
apagou-se a chama intensa

A FRANCISCO CEZIMBRA

    Eu chegara de França uns quatro dias antes
    E via-me tão só n'um deserto sem fim,
    Lá deixara a alegria, amores, estudantes,
    Via a vida, aqui, negra adiante de mim.

    Que havia de fazer? Eu não tinha um desejo,
    Nada no mundo me podia estimular!
    Ai quantas vezes, ao passar junto do Tejo,
    Perdoa-me, Senhor! pensei em me afogar!

*A UM LYRIO*

(A. A.)

Conta como é que existe
A tua vida á luz,
Lyrio mais casto e triste
Que os olhos de Jesus!

Quando nasceste, flor?
Quem te arrancou do chão?
Gérou-te occulto amor
De morto coração?

Ó lyrio delicado!
Ó lyrio branco e fino!
Talvez fosses creado
N'um seio femenino!

Escuta ó lyrio amado!
A flor confunde os sabios...
Talvez fosses os labios
D'aquella que hei amado!...

LÚDICO

 

a Ângelo Gabriel

 

Filho que pai

Sem parte inteiro

E fica de mãe abanando

O leite chorado das mãos.

Pipoca de dor a saudade

Que lambe o meu carrossel

E brinca de longe pertinho

De cabra-cega no escuro

De ´tô-no-poço´ sem fim

Num quebra-cabeça de sonho

Que corre o tempo ligeiro

E esconde-esconde de mim.

_OPIÁRIO_

AO SENHOR MÁRIO DE SÁ-CARNEIRO

É antes do ópio que a minh'alma é doente.
Sentir a vida convalesce e estióla
E eu vou buscar ao ópio que consóla
Um Oriente ao oriente do Oriente.

Esta vida de bórdo ha-de matar-me.
São dias só de febre na cabêça
E, por mais que procure até que adoêça,
Já não encontro a móla pra adaptar-me.

Em paradoxo e incompetência astral
Eu vivo a vincos d'ouro a minha vida,
Onda onde o pundonôr é uma descida
E os próprios gosos ganglios do meu mal.

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