Desilusão

A FERIDA AINDA SANGRA

A ferida as vezes sangra.

Chagas abertas purulentas

Infectadas de lembranças

A ferida sangra.

A ferida passa horas e horas doendo

A dor vai aos poucos corroendo

Não tem luz, nao tem brilho, não tem alma

E a muito, muito tempo nao se acalma!

A ferida vai sangrando pouco a pouco

Acabou-se a confiança e o amor louco

E as traições que foram tantas

Hoje vive e atormenta outros sonhos!

Não existe mais futuro, só passado

Nem aquilo que lutamos lado a lado

Pesadelos são vividos acordados

Queda,

Altivez quebrada no sentir da alma,
Queda anunciada, flecha quebrada,
Homem feito, de coração desfeito,
Aninhado na sua pequenez, rafeiro
Quebrado feitiço, que no mantinha de pé
Veles tenebrosos, na solidão do sentir
Galopante desespero, sem o afoito medo
Fingi ser grande, no pequeno que sou
Palavra fingida, sentida na alma
Querer fugir, não saber por onde ir
Quer ficar, parado assim aninhado
Colo que espera, desespero do ser,

Nós... os portugueses

É o pouco que nos une.
Um grande país de loucos
somos nós os filhos muitos
somos tantos portugueses
somos tantos tontos
e tão poucos loucos.
E a carne no assadouro
na fogueira das vaidades,
e poucos pagantes fregueses.
Haja quem nos pague
os poucos!
Há sempre quem nos gaste
os porcos!
E a carne ao lume que arde
dos loucos!
São tantas as vezes que arde
a carne!
E a dor que vem tão tarde.
quase sempre,
somos tão poucos às vezes,
porque somos tantos?

EXTINGO UMA PÁGINA DA VIDA – I

EXTINGO UMA PÁGINA DA VIDA – I

Na poesia, quis abusar
das palavras agressivas,
aquelas que vão engrossar
o vocabulário dos protestos.
Escrevi de raiva, frases vivas,
ditadas, sopradas por figuras
anónimas, fãs dos manifestos e da confusão.
Li, e reli, rasgando as passagens ofensivas
e com elas fui engolindo agruras,
mastigadas no tempo em depuração.

EXTINGO UMA PÁGINA DA VIDA - II

EXTINGO UMA PÁGINA DA VIDA - II

Afastei o nevoeiro da razão que impele
que o meu grito abafe e saia assim
engolido em seco, sufocado na garganta
por cenas vividas, múltiplos repúdios
acantonados à flor da pele.
Metamorfoses aprisionadas em mim,
decantam em crescente «por a dor ser tanta»,
virtuais compassos de espera! Autênticos interlúdios
trabalhados, em árias de gemidos dedilhados,
por mãos brancas de músicos amortalhados.

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