Desilusão

EXTINGO UMA PÁGINA DA VIDA – I

EXTINGO UMA PÁGINA DA VIDA – I

Na poesia, quis abusar
das palavras agressivas,
aquelas que vão engrossar
o vocabulário dos protestos.
Escrevi de raiva, frases vivas,
ditadas, sopradas por figuras
anónimas, fãs dos manifestos e da confusão.
Li, e reli, rasgando as passagens ofensivas
e com elas fui engolindo agruras,
mastigadas no tempo em depuração.

EXTINGO UMA PÁGINA DA VIDA - II

EXTINGO UMA PÁGINA DA VIDA - II

Afastei o nevoeiro da razão que impele
que o meu grito abafe e saia assim
engolido em seco, sufocado na garganta
por cenas vividas, múltiplos repúdios
acantonados à flor da pele.
Metamorfoses aprisionadas em mim,
decantam em crescente «por a dor ser tanta»,
virtuais compassos de espera! Autênticos interlúdios
trabalhados, em árias de gemidos dedilhados,
por mãos brancas de músicos amortalhados.

EXTINGO UMA PÁGINA DA VIDA - IV

EXTINGO UMA PÁGINA DA VIDA - IV

Quero esquecer, selar a página
de uma vida que já não sei se gostava.
Quero rir-me do que penei e passei
e de tudo o que eu amei, ou amava!

Do passado, apenas o resto do papel e tinta
e a voz! A minha, que ecoa no coração vadio.
Esse grito sufocado que na garganta ficou
e permanecerá nas tácitas asas do silêncio.
Legado ácido de uma aventura extinta,
que acabou na penumbra do vazio!

Já ninguem lá estava...

 
Hoje busquei a vida
na imensidão
da minha saudade
assim já insatisfeita
e na anciã de todas as vontades
de tudo quis colher e lembrar,
mas apenas sofri 
com o silencio retornando
de minha chamada em alvorada
afinal
já lá ninguém estava
senão nossos sonhos
e vontades
por inteiro de ti puder se abeirar
com tanta, tanta saciedade
 
FC

Tarde triste

Tarde triste
nestes versos te escrevi
chorando pedindo alívio
pois em ti, em nós,
renasce um eco de saudade,
foi numa tarde triste que o
nosso jardim nos abraçou
colorindo o leito onde derramamos
todas as pétalas 
que o tempo se encarregou de gravar
no nosso almejado universo amado...
numa tarde assim tão triste
onde enfim serenamente tudo
em mim usufruíste
FC
 

sufoco dilacerante

longe estão as palavras do desafogo os âmagos expelem sentidos indecifráveis no espectro agonizante da impaciência talham-se formas às sensações descabidas do senso na congeminação das inconfidências indestrutíveis neste apego pelo desnorte apenas se suavizam pequenos bolhas de ar puro que ainda nos vão rodeando António MR Martins

Pobre É O Bolso Do Pobre!

Na inflação pró-ricos
O conceito alimentação pesa no bolso dos pobres.
ALIMENTAÇÃO! 
Alimentação...
Quem disse que a nação liga? 
A nação?!
Habitação! Habitação. 
HABITAÇÃO.
O conceito habitação arrebenta o resto do cofre. 
Que merda de vida digna é essa?
Pobre é o bolso do pobre!
O pobre é o louco que sofre.
É essa a revolução?
É essa a mudança? 
Falta amor e evolução

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