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SOPRO

SOPRO
 
Existe... Tudo existe!
Do nada existe.
Do vazio? De um vácuo?...
O vácuo existe... Existe, sim!
Mas criado, do Alguém, criado!...
 
O antes, o  princípio!...
Antes?... Quando?
Não quando... Nem onde... Nem porquê...
Porque o antes, existe. Mas não o antes de tudo.
Existe?... Sim .. É?... Já antes de tudo...Era!
 
Existe tudo... até o que não se move!

Samurai

Minha haste finca na alma,
Presa na terra íngreme,
Soterrada na cruz que desalma
O sepulcro que se estremece.

Minha katana já não corta,
Inimigo não me teme,
Fui rasgado na faca torta,
E morto na vida tênue.

Sou samurai das mil sombras,
Nas catacumbas sou lembrado.
Não fui de seppuku ou sondas,
Fui de guerreiro a enterrado.

Janelas

Abertas no solilóquio do vento,
Abruptamente batem entre si,
Janelas batem pensamentos,
Por vezes frívolos, chocam-se.

A jovial janela interroga:
— Por que tão rígida és?
A outra responde na hora:
— Porque a chuva agride-me.

Sucinta e clara resposta
Por satisfeita ela cala.
‘’Por que a chuva e não a Lua?’’
Pensa a janela tapada.

Estranhos montes

Sentimento de estranheza pelos montes,
Montes terrestres, montes do coração,
É como nomeio aquilo dito na mente.
Tem coisa que a gente não sabe falar,
Nem escalar como no monte insólito.
Deitarei sobre a cama para enfim escalar.
No vale dos sonhos o inominável descansa,
E no monte desconhecido, repouso. 

Seis emoções

 

As emoções básicas são elementos.
A raiva finda secando o coração,
enrijece e aquece tormentos.

Diferente da tristeza que enxarca
rios de interna decepção,
melancoliza a noite e tarda.

Já a alegria resplandece o agito,
oposta ao medo de se crescer,
inversamente, sente o suspiro,
treme e apequena o ser.

Medo e surpresa são parecidos:
um teme o estrondo, o outro
se choca nos raios fortíssimos.

Linguagem e suas peripécias

Hiperonímia do ser

Hipocrisia, egoísmo, arrogância, soberba e maldade.

Metonímia do cansaço

Cruzei o mar a mil passos pro oeste. Minhas pernas se afogaram em cansaço.

Prosopopeia dos destroços

Tanta dor. Sofro de tremor: minha enxaqueca desabou-me no chão.

Aliteração literária

Literatura atura mil coisas, até a fé do que vê e crê. Literatura jura que saber e crer não é igual e legal.

Acrônimo da tia Neide

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