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INFÂNCIA AMADA

Na grama, observando nuvens,

Nós, em crianças brincávamos!

Deitávamos, vários!

Lado a lado!

Meninos e meninas.

Em inocentes tocs,

Sempre, para chamar a atenção,

As formas de bichos, duendes...

castelos, mágicos!

Que densas nuvens, se tranformavam.

Coisas... de nossa imaginação!

Passávamos horas... e horas!

Escarrapachados sob o sol.

Sem protetores solares, repelente.

Sem nada! Sómente nós.

Protegidos, pela infância amada.

 

Defunto

Brando este sono e me abraço
Em meu corpo defunto e me desfaço,
Em mil terras, larvas, e coisas parvas...
É meu sono profundo, e meu resto é teu mundo.

Baloiço que é vida
Sobe, desce e que cresce.
Curva de sina - linha sentida;
Saltam-me os pés, camarada,

Saltam-me, e de mim saem.
Descobrem desertos e ventos de marés,
Desenham-me em vida, porém
Apenas eu sou, porque tu és.

E o corpo me queda...
Num silêncio acrescento
E não sei se me aguento
Neste sono que é seda.

ELA CORRE NA AREIA DA PRAIA

Como a tenra maré que desliza
E no doirado solo se espraia,
Cheia de doçura e sutileza
Ela corre na areia da praia.

Como a brisa da tarde inquieta
Que seu suspiro mimoso ensaia,
De pés descalços e riso singelo,
Ela corre na areia da praia.

Como a sombra da palma tremente
Ou no mar a misteriosa arraia,
Exibindo seu infindo encanto
Ela corre na areia da praia.

Como a musa que me acorda o pranto,
Perseguindo as cores da jandaia,
Ouvindo a voz de sua inocência
Ela corre na areia da praia.

A LIBERTINA

Oh! Tu, que solitária na calçada
Qual estátua espreita a luz do nada,
Deixa-me infundir-te este casto amor,
Lançar em teu corpo o folgar da sesta,
Pálida sombra que o pesar atesta
- Tu és p`ra mim a pudica flor.

Embora verta teu olhar profundo
Toda a mágoa que possa haver no mundo,
Amo o fulgor que na noite se espalha.
Sonho-te minha, por algum momento,
Guardo comigo teu atroz lamento,
Dele enfim faço uma mortalha.

Fixo no longe

Fixo no longe
o olhar;
Querendo conquistar,
hoje,
o que longe
se parece escapar.

Como um pinheiro que passa
enquanto nós passamos.
Como um túnel que ameaça
a ligação com os que amamos.

Esse desejo passa,
mas eu, com uma mordaça,
não lhe consigo falar.

Desisto, calo e olho-o passar.

É então que na mão me surge uma faca.
Oh, poderosa!
A alma que pensava fraca
vira corajosa.

Ô rapaz, e eu nem sabia.

Ô rapaz, e eu nem sabia.

 

Eu abro a minha caixa de entrada do Outlook e olha o que eu encontro. Eu estou sendo traído e não sabia. É o que diz o título do e-mail. Engraçado é que eu não sabia nem que eu era casado. Mas tudo bem, Jesus também foi traído e perdoou, quem sou eu pra negar um perdão. Só não sei a quem devo perdoar, e a essa altura do campeonato, melhor eu nem saber. E se alguém perguntar eu respondo, ô rapaz, e eu nem sabia.

 

Charles Silva

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