Geral

Na verdade, não sei, quem na verdade sou

Não sei se sou quem na verdade pareço ser!
Sou tantas vezes lágrima em sorrisos perdidos
Que afoguei a minha própria tristeza no peito.
Sou um trapézio de cordas bambas mas seguras,
Sou um rio que a chuva enche de lamentações.
Sei quem sou aos olhos da chuva que me encharca
Mas na verdade, não sei, quem na verdade sou.
Por vezes, sinto-me assim, a modos que perdida
Apetece-me chorar! Mas já não sei como se faz!
A vida tratou de me roubar as lágrimas salgadas,
Marcou-me um destino de brisa-primavera,

Sacrifício

A borboleta às cores pousou na flor às cores a morrer por cima do pano que tapa o espetado que havia sonhado e gritado e caído amparado na terra dos pedaços de carne em decomposição. Na terra dos pedaços de carne em decomposição há o esperma que caiu no canto escuro da casa e que depois foi atirado para fora da porta trazendo consigo os cavaleiros do apocalipse que ainda hoje encostam o focinho preto dos cavalos nas vidraças. O focinho preto dos cavalos nas vidraças desenha uma boca fechada e despro-vida de sensualidade tal como um corpo gretado e sujo envolvido numa mortalha tosca.

BRAVO

A aparência de uma maçã 

A fome de um andarilho

A cultura de um estudante

Na sinfonia do universo

Nuvens ventos chuvas

Estradas flores gritos

Supérfluos adjetivos

Cravados em um monumento

De soberbos acirrados ingênuos

Panfletos gestos animalescos

Soldados e bombas

Insurgi bravos brasileiros

Com suas lanças de um mais um

Milhões de passos que vi na TV

Bravo

Eu quero

Quero sair daqui
Sair desse quarto e ver a noite.
Ir pra uma festa e voltar de madrugada...
Quero acender a luz e escrever.

Quero sair do quarto e sentir o vento lá fora
Sentir a noite e as estrelas
Eu quero levantar desda maldita cama e sair
Sair e só voltar quando eu estiver bêbada.

Quero ir a uma festa
Levantar desda maldita cama e sair.
Quero brigar.
Jogar algo contra a parede e gritar.
Quero quebrar o prato e xinga-lo,
Quero algo para abafar minha voz...
Quero brigar...

sola dos sapatos

Gastei as solas dos sapatos nesta estrada
No meio do pó e pedras soltas pelo tempo
Percorri quilómetros de incertezas de nada
Descosi a biqueira do sapato em passo lento

As pedras feriam-me o interior a cada passada
A biqueira era a porta de entrada da dor sentida
A sola era a base da minha vontade encontrada
Gasta pela estrada sempre percorrida.

Subi montanhas com estes sapatos gastos
Desci vales com os pés descalços de ser
Calcei novamente os sapatos apertados
E percorri a estrada sem me perder

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