Geral

De Branco Pintadas as Paredes São

De branco pintadas as paredes são.
Monotonamente.
Mente monótona esta minha mente.

O relógio devora as horas
que passam quadradas pelo futuro.
E, branco, ladro e mio
e vida e morte invadem
o meu pensamento catarino.

Vi uma catedral sem cúpula sobre a sua nave
pintada na retina do meu olhar ciclópico,
à sombra do sol de meio-dia que tranluz
o som metálico do tempo parado.

PALAVRAS

Com as letras do abecedário
Construímos palavras sentidas,
Formamos frases e textos,
Que por outros vão ser lidas.
 
Podem ser doces e apaixonadas,
Podem ser rudes e agressivas,
Podem ser curtas e tristes,
Podem ser longas e divertidas.
 
Circulam em cartas e livros,
Gravam-se nas vidas no tempo,
Contam histórias, narram factos,
São os olhos dum mundo atento.
 

Palavras que se me emperram.

‘Palavras que se me emperram’

Eu queria em mim sorver,
no rumor dos meus silêncios
no fio manso da corrente...
_A leveza de escrever.

Dedilhar os sentimentos
que me enchem os instantes
e me escorrem alma adentro
frementes de inquietação.

Consagrando de prazer
os momentos delirantes
a transbordar de emoção
que vão no meu pensamento.

Primavera

Primavera

Primavera chegou e eu nem notei, devo estar fora de estação. As flores do meu jardim me avisam que já é primavera, mas eu nem notei. No meu mundo ainda é inverno, em mim há uma era glacial interminável. Sinto frio, estou molhado da tempestade que ainda não passou. Mas o tempo já dá sinais que vem ai sol e céu aberto, pois a primavera já chegou e eu nem notei.

Charles Silva

Era primavera

Era primavera

Era primavera e o perfume das flores nos trazia um respirar mais aromático. Múltiplas cores vibravam sob a luz radiante do sol refletindo-se nas folhas das árvores e arbustos, poucas nuvens se atreviam a passar lentamente sem deixar que o sol tocasse a tudo e a todos.

Era primavera e uma revoada de pequenos pássaros orquestrava uma linda e melódica sinfonia no jardim lá fora. Apenas os pequenos macacos interrompiam a cantilena do passaredo nas árvores cheias de flores e frutos.

Aeroporto de sombras

Há sombras de aviões altos no chão espelhado
e, nos pés, sinto a fúria trepidante dos voos
rasgados (rasantes!) das memórias inventadas
em sonhos que ainda viajam pela minha cabeça.

Por vezes, paro no meio dos degraus
das escadas que elevam os viajantes à partida;
olho à volta e é como se sorvesse cada gesto demorado,
cada medo inconfessado, cada arfar de saudade
incontida no olhar húmido de tanta gente.

Outras vezes, se paro, vejo-te. E imagino que me sorris.

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