Geral

*A ULTIMA SERENADA DO DIABO*

No tempo em que elle, nas lendas,
Era amante e cortezão,
Jogava, e tinha contendas,
Cantava assim em Milão:

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Ó flores meigas, ó Bellas!
Para prender os toucados,
Eu dar-vos-hia as estrellas:
--Os alfinetes dourados!

Só pelo amor quebro lanças!--
A Rainha de Navarra
Enleou um dia as tranças
No braço d'esta guitarra!

*DUAS QUADRAS DE DIOGENES NO ALBUM DE LAIS*

Quando no meu o teu olhar se esquece,
A minha alma, mulher! é como um urso
Que dança pelas feiras, e obdece
Ao magro saltimbanco e ao seu discurso.

E os meus velhos desejos violentos
Soluçam--hystriões esfomeados!--
Como os gatos noturnos, friorentos,
Que miam lamentosos nos telhados.

*A UMA ANDORINHA*

Nas brisas da tardinha
Pára teu vôo um pouco;
Ouve um poeta, um louco,
--Escuta-me andorinha!

Um pouco deixa os ninhos;
Attende as vãs loucuras,
--Tambem nas sepulturas
Vôam os passarinhos!

Nem sempre o azul ethereo
Quaes flexas vão cortando,
--Tambem riem, voando,
No chão do cemiterio!

Lavam os pés rosados
Nas urnas funeraes;
--Tu, mesmo, nos telhados
Moras das cathedraes!

*A CAMELIA NEGRA*

Por isso vos espera
    O dia da vingança!
    (Souza Caldas)

Como as urnas das rosas mal fechadas,
Cujos aromas boiam no poente,
Quando passas nossa alma aspira e sente
As sensações das ilhas ignoradas.

E o teu cabello, ó lubrica serpente!
Rescende todo a unguentos e a pomadas,
Como as mumias que habitam no Oriente,
Debaixo das pyramides sagradas.

Mas que te serve e val tanta fadiga,
Ó pó doirado e vão? e o mundo diga:--
Meu leito, meu pomar de sensações!!

*IDYLIO MERIDIONAL*

Sem ti, vejo o meu futuro
Um horto cheio d'abrolhos!--
Ah não me deixem teus olhos
Por este caminho escuro!

No inverno, as candidas aves
Abandonam os pombaes,
Meu bem, teus olhos suaves
Não me desterrem jámais!

Quando á tarde o ceu flameja,
Junto de ti encostado,
Que vezes, não tenho inveja
Da agulha do teu bordado!

Eu quizera a toda a hora
Cantar-te, ó sol os meus dias!
Como os sonetos que á Aurora
Enviam as cotovias.

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