O segredo do poeta
Autor: César Augusto on Saturday, 12 January 2013
Para os corações puros tudo é puro.
S. Paulo a Tito.
I
CHEGADA
A SULAMENSE
	    --Tomára já ter o gosto
	    De o sentir beijar-me o rosto!
CORO DE VIRGENS
	    --E onde ha mulher que te exceda?
	    Só esse collo embebeda.
	    O aroma que elle exhala,
	    Nenhum balsamo o iguala.
2.º CORO
	    --O teu nome, fallar n'elle,
	    Só fallar n'elle é tão dôce
	    Como se um oleo nos fosse
	    Escorrendo pela pelle.
SALOMÃO
Tocar que impio se atreve!..
	     (Flores do Campo)
	Ella é tão loura, lyrica, franzina,
	Tão mimosa, quieta, e virginal,
	Como uma bella virgem d'um missal
	Toda dourada, e preciosa e fina!
	Não ha graça mais casta e femenina
	Do que a d'ella! Seu riso angelical
	Cria em nós todo um mundo de moral,
	Melhor que tudo o que Platão ensina!
	Por isso; e pela sua castidade,
	Deve ser goso intenso, na verdade,
	Sentir fundir-se em nós seus olhos regios!..
¿Ó espírito meu, na apatia e no luto,
	Que é do fogo de outrora, aquele antigo ardor
	Que a Esp'rança esporeou?... Vá, não tenhas pudor,
	Estende-te a dormir, cavalo irresoluto!
Descansa, coração; dorme em paz como um bruto.
	Espírito vencido e escarnecido! O amor
	E a luta já não teem para ti seduções;
	Adeus, cantos gazís, meigas orquestrações!
	Prazeres, não tenteis meu peito sem calor!
Perdeu a Primavera o seu perfume e côr!
Pensar em Deus é desobedecer a Deus,
Porque Deus quis que o não conhecêssemos,
Por isso se nos não mostrou...
Patriota? Não: só português.
Nasci português como nasci louro e de olhos azuis.
Se nasci para falar, tenho que falar-me.
Ali, onde o mar quebra, num cachão Rugidor e monotono, e os ventos Erguem pelo areal os seus lamentos, Ali se hade enterrar meu coração. Queimem-no os sóes da adusta solidão, Na fornalha do estio, em dias lentos; Depois, no hinverno, os sopros violentos Lhe revolvam em torno o árido chão... Até que se desfaça e, já tornado Em impalpavel pó, seja levado Nos turbilhões que o vento levantar... Com suas lutas, seu cançado anceio, Seu louco amor, dissolva-se no seio Desse infecundo, desse amargo mar!