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MÃOS FRIAS CORAÇÃO QUENTE

Dez da manhã. Vento da
serra. Tres graus negativos

_Mãos frias, coração quente_!
Quanta vez isto dizias
Com o teu ar sorridente,
Apertando-me as mãos frias...

Agora decerto o tenho
Num brazeiro, num vulcão.
O frio é tanto, é tamanho
Que a penna cae-me da mão...

Q'ria dizer-te o que penso
E o que faço e premedito,
Mas posso lá ser extenso
Com este frio maldito!

Tu perdoas certamente,
Tu não te zangas, pois não?
_Mãos frias, coração quente_
--Lá diz o velho rifão...

Lagrima celeste

    Lagrima celeste,
    Perola do mar,
    O que me fizeste
    Para me encantar!

    Ah! se tu não fosses
    Lagrima do céo,
    Lagrimas tão dôces
    Não chorára eu.

    Se nunca te visse
    Bonina do val,
    Talvez não sentisse
    Nunca amor igual.

    Pomba desmandada,
    Que é dos filhos teus,
    Luz da madrugada,
    Luz dos olhos meus!

    Meu suspiro eterno,
    Meu eterno amor,
    D'um olhar mais terno
    Que o abrir da flôr,

*MADRIGAL EXCENTRICO*

Tu que não temes a Morte,
Nem a sombra dos cyprestes,
Escuta, Lyrio do Norte,
Os meus canticos agrestes:

..........................................
..........................................
..........................................
..........................................

Tu ignoras os desgostos
D'um coração torturado,
Mais tristes do que os soes postos,
Ou de que um bobo espancado!

Azul ou Verde?

Quando olho para o céu azul

Penso que estou sendo puxada da terra,

Pois a sua cor é tão envolvente como a força de atração da eletricidade.

 

Olho as estrelas em meio a uma extensão preta

Pra mim elas são como pontos ou buracos

Chamando-me para ir de encontro a elas.

 

Quando me lembro da imensidão azul

Daquele cheiro de mar choro,

CARTA A UM RAPAZ SENTIMENTAL

«Um mover d'olhos brando e piedoso
Sem vêr de quê; um riso brando e honesto
Quasi forçado; um doce e humilde gesto
De qualquer alegria duvidoso

       *       *       *       *       *

Um encolhido ousar; uma brandura,
Um medo sem ter culpa; um ar sereno,
Um longo e obediente soffrimento.

       *       *       *       *       *

Camões

Num quente e perturbante fim de tarde,
Cujo magnetico e profundo enlevo
Ainda agora em mim crepita e arde,
Como se fosse a tarde em que te escrevo,

*Ah Deixem-me Dormir!*

O Poeta

Olá, bom velho! é aqui o _Hotel da Cova_,
Tens algum quarto ainda para alugar?
Simples que seja, basta-me uma alcova...
(Como eu estou molhado! é de chorar...)

    O povo

    O luar averte as orvalhadas sobre a rua!
    Jezus! que lindo...

Vamos! depressa! Vem, faze-me a cama,
Que eu tenho somno, quero-me deitar!
Ó velha Morte, minha outra ama!
Para eu dormir, vem dar-me de mamar...

        A S.^{ra} Julia

        São as Janeiras da Lua!

O Coveiro

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