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MÃOS FRIAS CORAÇÃO QUENTE
Autor: Augusto Gil on Thursday, 27 December 2012Dez da manhã. Vento da
serra. Tres graus negativos
_Mãos frias, coração quente_!
Quanta vez isto dizias
Com o teu ar sorridente,
Apertando-me as mãos frias...
Agora decerto o tenho
Num brazeiro, num vulcão.
O frio é tanto, é tamanho
Que a penna cae-me da mão...
Q'ria dizer-te o que penso
E o que faço e premedito,
Mas posso lá ser extenso
Com este frio maldito!
Tu perdoas certamente,
Tu não te zangas, pois não?
_Mãos frias, coração quente_
--Lá diz o velho rifão...
Lagrima celeste
Autor: João de Deus on Thursday, 27 December 2012 Lagrima celeste,
Perola do mar,
O que me fizeste
Para me encantar!
Ah! se tu não fosses
Lagrima do céo,
Lagrimas tão dôces
Não chorára eu.
Se nunca te visse
Bonina do val,
Talvez não sentisse
Nunca amor igual.
Pomba desmandada,
Que é dos filhos teus,
Luz da madrugada,
Luz dos olhos meus!
Meu suspiro eterno,
Meu eterno amor,
D'um olhar mais terno
Que o abrir da flôr,
*MADRIGAL EXCENTRICO*
Autor: Gomes Leal on Thursday, 27 December 2012Tu que não temes a Morte,
Nem a sombra dos cyprestes,
Escuta, Lyrio do Norte,
Os meus canticos agrestes:
..........................................
..........................................
..........................................
..........................................
Tu ignoras os desgostos
D'um coração torturado,
Mais tristes do que os soes postos,
Ou de que um bobo espancado!
O luar quando bate na relva
Autor: Alberto Caeiro on Thursday, 27 December 2012
O luar quando bate na relva
Não sei que cousa me lembra...
Lembra-me a voz da criada velha
O luar através dos altos ramos
Autor: Alberto Caeiro on Thursday, 27 December 2012
O luar através dos altos ramos,
Dizem os poetas todos que ele é mais
Que o luar através dos altos ramos.
Azul ou Verde?
Autor: Raquel Soares on Wednesday, 26 December 2012Quando olho para o céu azul
Penso que estou sendo puxada da terra,
Pois a sua cor é tão envolvente como a força de atração da eletricidade.
Olho as estrelas em meio a uma extensão preta
Pra mim elas são como pontos ou buracos
Chamando-me para ir de encontro a elas.
Quando me lembro da imensidão azul
Daquele cheiro de mar choro,
CARTA A UM RAPAZ SENTIMENTAL
Autor: Augusto Gil on Wednesday, 26 December 2012«Um mover d'olhos brando e piedoso
Sem vêr de quê; um riso brando e honesto
Quasi forçado; um doce e humilde gesto
De qualquer alegria duvidoso
* * * * *
Um encolhido ousar; uma brandura,
Um medo sem ter culpa; um ar sereno,
Um longo e obediente soffrimento.
* * * * *
Camões
Num quente e perturbante fim de tarde,
Cujo magnetico e profundo enlevo
Ainda agora em mim crepita e arde,
Como se fosse a tarde em que te escrevo,
*Ah Deixem-me Dormir!*
Autor: António Nobre on Wednesday, 26 December 2012O Poeta
Olá, bom velho! é aqui o _Hotel da Cova_,
Tens algum quarto ainda para alugar?
Simples que seja, basta-me uma alcova...
(Como eu estou molhado! é de chorar...)
O povo
O luar averte as orvalhadas sobre a rua!
Jezus! que lindo...
Vamos! depressa! Vem, faze-me a cama,
Que eu tenho somno, quero-me deitar!
Ó velha Morte, minha outra ama!
Para eu dormir, vem dar-me de mamar...
A S.^{ra} Julia
São as Janeiras da Lua!
O Coveiro
*NA CABECEIRA D'UM LEITO*
Autor: Gomes Leal on Wednesday, 26 December 2012Quando as tuas mãos inermes
Forem em cruz sobre o peito,
E que te roam os vermes
Ó corpo branco e perfeito!
E sejas cheia de terra
Boca cheia de risadas,
Chora este amor que me aterra...
Pelas noutes estrelladas!...