Geral

FRAGMENTO

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    Deixal-o: os olhos fecho á luz e quero...
    Quero-te, oh sonho, se és doirado e lindo:
    Mais que a teus fachos, pedagogo austero!
    Que me condemnas em chorando e rindo.
    Sempre olhos fundos, sempre esse ar severo...
    Razão! não te amo; mas a ti, bemvindo,
    Tu que os conselhos nunca, amor! lhe tomas;
    Dás luz á lua, dás á rosa aromas.

*MISERIA OCCULTA*

Bate nos vidros a aurora,
Vem depois a noute escura;
E o pobre astro que ali móra,
Não abandona a costura!

Para uns a vida é d'abrolhos!
Para outros mouta de lyrios!
Bem o revelam seus olhos,
Pisados pelos martyrios!

Miseria afugenta tudo!
Miseria tem dons funestos!
Quem é que gaba o velludo
D'aquelles olhos honestos!...

Ninguem seus olhos brilhantes
Descobre n'essas alturas...
E aquellas formas tão puras,
E aquellas mãos elegantes!

TOADA PARA AS MÃES ACALENTAREM OS FILHOS

_A Bertha Cayolla Gil Vianna_, minha sobrinha

Oh Desgraça! vae-te embora,
Que esta linda criancinha
Andou no meu ventre e agora
Trago-a nos braços. É minha!...

Do berço, segue-me os passos;
Onde eu vou, seus olhos vão...
E quando a aperto nos braços
--Abraço o meu coração.

Quando o seu chôro receio,
Embalo-a, faço que acceite
A alegria do meu seio
Na brancura do meu leite...

*Ballada do Caixão*

O meu vizinho é carpinteiro,
Algibebe de Dona Morte:
Ponteia e coze, o dia inteiro,
Fatos de pau de toda a sorte:
Mogno, debruados de velludo
Flandres gentil, pinho do Norte...
Ora eu que trago um sobretudo
Que já me vae a aborrecer,
Fui-me lá, hontem: (era Entrudo,
Havia immenso que fazer!...)
--Olá, bom homem! quero um fato,
Tem que me sirva?--Vamos ver...
Olhou, mexeu na caza toda...
--Eis aqui um e bem barato.

HERESTA

Que magua ou que receio
    Dos olhos te desata
    Aljofares de prata
    No jaspe do teu seio?

    Bem intima ser deve
    A pena que te opprime,
    Flôr tenra como o vime,
    Flôr pura como a neve!

    --Compunge-te isso, dóe-te
    Vêr esmaltando o calix
    Da erma flôr dos valles
    O balsamo da noite?

    Se aos olhos nos affluem
    As lagrimas, parece
    Que a dôr nos adormece,
    E as maguas diminuem.

*OS LOBOS*

La neige batait les vitres...
     (Gustavo Droz)

Cae lentamente a neve em cima dos telhados.

Tres longos dias crus, terriveis são passados,
Que o rude lavrador anda por fóra ao vento,
Á neve, ao frio, ao sol, em busca de alimento,
E ainda não voltou. Um dos tres filhos chora;
Rija e sonoramente, a chuva cae lá fóra.

BALLADA DA NEVE

Il pleure dans mon coeur
Comme il pleut sur la ville.

Verlaine

_A Vicente Arnoso_

Batem leve, levemente
Como quem chama por mim...
Será chuva? Será gente?
Gente não é certamente
E a chuva não bate assim...

É talvez a ventania;
Mas ha pouco, ha poucochinho,
Nem uma agulha bolia
Na quieta melancolia
Dos pinheiros do caminho...

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