Geral

*Episodio balnear*

      N'uma _soirée_ heroica, ignea e linda
      Jurára o fulvo Arthur até á morte
      Ser da formosa e pudibunda Olinda
      Chumbando a ella p'ra sempre a sua sorte.

      Por ella ao inferno iria, o mar ainda
      Beberia d'um trago! Ella é seu norte,
      Meiga estrella de lucido transporte,
      Palpitante de rubra graça infinda.

      De manhã cêdo a nossa _Julieta_
      Desce nas crespas vagas a banhar-se
      Mascarada n'um fato de baeta

E Dai?

 

 

E dai se teu bilhete de identidade afirma que tens mil anos?

E daí se teus olhos já não enxergam tão bem como ontem?

Se teus passos já não são tão firmes e a voz tão poderosa?

 

Olhe-me aquí dentro do meus olhos e com os teus

abraça-me...

 

Não vejo tua bengala

Não apalpo as batidas do teu coração exausto

Luar de janeiro, Fria claridade

Á luz delle foi talvez
Que primeiro
A bocca dum português
Disse a palavra saudade...

Luar de platina,
Luar que allumia
Mas que não aquece,
Photographia
D'alegre menina
Que ha muitos annos já... envelhecesse.

Luar de janeiro,
O gelo tornado
Luminosidade...
Rosa sem cheiro,
Amor passado
De que ficasse apenas a amizade...

Ó pobres versos meus...

Ó pobres versos meus, lançae-vos pela estrada
Agreste e pedregosa, aonde os companheiros
Da luta, encontrareis, meus infimos guerreiros,
Formando os batalhões da bellica avançada!

E o trajo em desalinho, a face illuminada,
Transponde, sem demora, os fossos derradeiros
Que separam de nós os braços justiceiros
Da serena Verdade, a Deusa idolatrada.

Vencidos no combate, ou pouco ou nada importa.
Ao chão vergae sem pena a faço semi-morta,
Mordendo, inda a lutar, o pó da enorme liça:

VERSOS A *

Eu sou, mulher suave, aquelle antigo louco,
O triste sonhador que o teu olhar cantou,
E que hoje vae sentindo, o sonho, a pouco e pouco,
Fugir como o luar d'um astro que expirou!

Que morra, porque, emfim, bem longo elle tem sido
E tempo é já, talvez, da Morte desposar
O sonho que em minha alma entrou como um bandido
E só da vida sae depois de me roubar!

Eu devera amarral-o á braga do forçado,
Como a Justiça faz aos despreziveis réos,
E lançal-o depois á valla do passado
Aonde o fulminasse a colera dos céos.

O CÃO DO LOUVRE. (_Delavigne_).

Tu que passas, descobre-te! Alli dorme
      O forte que morreu.
Dá ao martyr do Louvre algumas flores;
      Dá pão ao seu lebreu.
Da batalha era o dia. O canhão troa:
E o livre corre á morte, e juncto delle
      O seu cão vai:
A mesma bala ambos feriu: o martyr
Não deploreis: o amigo seu que vive
      Só pranteai!
Tristonho, sobre o forte elle se inclina,
Affagando-o e gemendo; e a ver se acorda
      Põe-se a latir;
E do seu companheiro no combate
Sobre o cadaver sanguinoso o pranto

Apoteose

Mastros quebrados, singro num mar d'Ouro
Dormindo fôgo, incerto, longemente...
Tudo se me igualou num sonho rente,
E em metade de mim hoje só móro...

São tristezas de bronze as que inda choro -
Pilastras mortas, marmores ao Poente...
Lagearam-se-me as ânsias brancamente
Por claustros falsos onde nunca óro...

Desci de mim. Dobrei o manto d'Astro,
Quebrei a taça de cristal e espanto,
Talhei em sombra o Oiro do meu rastro...

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