Geral

Os Meus Versos

Rasga esses versos que eu te fiz, amor!
Deita-os ao nada, ao pó, ao esquecimento,
Que a cinza os cubra, que os arraste o vento,
Que a tempestade os leve aonde for!

Rasga-os na mente, se os souberes de cor,
Que volte ao nada o nada de um momento!
Julguei-me grande pelo sentimento,
E pelo orgulho ainda sou maior!...

Tanto verso já disse o que eu sonhei!
Tantos penaram já o que eu penei!
Asas que passam, todo o mundo as sente...

VENTURA

    O sol na marcha luminosa vôa
    Lançando á terra magestoso olhar;
    Passa cantando quem o ar povôa
    E a praia abraça venturoso o mar.

    No bosque o vento dôce canto entôa,
    Ouvem-se em côro as multidões cantar;
    Que a um só triste o coração lhe dôa,
    Que eu seja o unico a soffrer, chorar...

    Por ti, saudade... de quem vai tão perto
    E a quem dos olhos e das mãos perdi
    N'este tão ermo lugubre deserto!

*Pobre Tysica*!

Quando ella passa á minha porta,
Magra, livida, quazi morta,
E vae até á beira-mar,
Labios brancos, olhos pizados:
Meu coração dobra a finados,
Meu coração poe-se a chorar...

Perpassa leve como a folha,
E suspirando, ás vezes, olha
Para as gaivotas, para o Ar:
E, assim, as suas pupillas negras
Parecem duas toutinegras,
Tentando as azas para voar!

*Paysagem*

      O sol adormecera no horisonte;
      As nuvens em retalhos somnolentos,
      Parecem nos bisarros tons cinzentos
      O grupo despenhado de Phaetonte.

      O riacho deslisa ao pé do monte
      Em frequentes e turgidos lamentos;
      A philomela ensina o canto aos ventos
      No chorão, que murmura junto á fonte.

      A varzea rescende á larangeira!
      Da cathedral nas frestas em ogiva
      Um rancho d'andorinhas s'enfileira;

Struggle for life

(A ALBERTO SILVA)

«Luctar, luctar!» dizeis-me vós. «A lucta
É inherente á propria natureza»,
Mas qual é a victoria absoluta
N'esta guerra sem treguas, sempre accesa!

Hája quem venha á barra, quem discuta
E me combata e dome esta incerteza.
Sinto a minha alma inerme, irresoluta,
Cheia de abatimento e de fraqueza.

Eu luctaria com denodo, sim,
Se á lucta visse um terminus, um fim;
Mas qual de vós que ha tanto batalhaes

Árvores do Alentejo

Ao Prof Guido Battelli

Horas mortas... Curvada aos pés do Monte
A planície é um brasido... e, torturadas,
As árvores sangrentas, revoltadas,
Gritam a Deus a bênção duma fonte!

E quando, manhã alta, o sol posponte
A oiro a giesta, a arder, pelas estradas,
Esfíngicas, recortam desgrenhadas
Os trágicos perfis no horizonte!

Árvores! Corações, almas que choram,
Almas iguais à minha, almas que imploram
Em vão remédio para tanta mágoa!

Sua alteza real o pequenino infante

Sua alteza real o pequenino infante
Matou, d'um tiro só, dois gamos na carreira:
Um hymno mais ao céo, pois era a vez primeira
Que sua alteza vinha á diversão galante!

Ó vergontea gentil! quando um tropel distante
De subito acordar os echos da clareira
E uma preza cansada, em rolos de poeira,
Varada, a vossos pés, caír agonisante,

Acercai-vos então da pobre fera exangue
Que estrebuxa de dôr n'um mar de lama e sangue
Sem que um grito de dó nos corações acorde!

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