Geral

*Entre palmeiras*

      Faiscam os jaezes dos Cavallos,
      Vibra o som dos clarins pela athmosphera;
      No dorso de elephantes reverbéra
      A seda e prata em crebros intervallos.

      Rodeado de innumeros vassallos
      Intrepido radjah de côr austera
      Busca o tigre e leão, onça e panthera
      Crusando as selvas, e galgando os vallos.

      No cerrado paul ondula a brenha
      E um leão de medonha, hirsuta juba
      Em furioso valor se desentranha.

Flores

De um pequeno degrau dourado -, entre os cordões
de seda, os cinzentos véus de gaze, os veludos verdes
e os discos de cristal que enegrecem como bronze
ao sol -, vejo a digital abrir-se sobre um tapete de filigranas
de prata, de olhos e de cabeleiras.

Peças de ouro amarelo espalhadas sobre a ágata, pilastras
de mogno sustentando uma cúpula de esmeraldas,
buquês de cetim branco e de finas varas de rubis
rodeiam a rosa d'água.

Volúpia

No divino impudor da mocidade,
Nesse êxtase pagão que vence a sorte,
Num frêmito vibrante de ansiedade,
Dou-te o meu corpo prometido à morte!

A sombra entre a mentira e a verdade...
A nuvem que arrastou o vento norte...
- Meu corpo! Trago nele um vinho forte:
Meus beijos de volúpia e de maldade!

Trago dálias vermelhas no regaço...
São os dedos do sol quando te abraço,
Cravados no teu peito como lanças!

Nascemos para amar

Nascemos para amar; a Humanidade
Vai, tarde ou cedo, aos laços da ternura.
Tu és doce atractivo, ó Formosura,
Que encanta, que seduz, que persuade.

Enleia-se por gosto a liberdade;
E depois que a paixão na alma se apura,
Alguns então lhe chamam desventura,
Chamam-lhe alguns então felicidade.

Qual se abisma nas lôbregas tristezas,
Qual em suaves júbilos discorre,
Com esperanças mil na ideia acesas.

A tua voz de primavera

Manto de seda azul, o céu reflete
Quanta alegria na minha alma vai!
Tenho os meus lábios úmidos: tomai
A flor e o mel que a vida nos promete!

Sinfonia de luz meu corpo não repete
O ritmo e a cor dum mesmo desejo... olhai!
Iguala o sol que sempre às ondas cai,
Sem que a visão dos poentes se complete!

Meus pequeninos seios cor-de-rosa,
Se os roça ou prende a tua mão nervosa,
Têm a firmeza elástica dos gamos...

E seguia a visão.--Do templo á esquerda

E seguia a visão.--Do templo á esquerda,
Méstas as faces, inclinada a fronte,
Da noite as larvas tinham sobre o sólo
Fito o espantado olhar, e as dilatadas
Baças pupillas lhes tingia o susto.
Mas, como zona lucida de estrellas,
Nessa atmosphera crassa e afogueada
Pela espada rubente, refulgiam
Da direita os espiritos, banhado
De inenarravel placidez seu gesto.
Era inteiro o silencio, e no silencio
Uma voz resoou--Eleitos vinde!--
Ide precítos!»--Vacillava a terra,

EVOCAÇÃO

Levanta-te Romeu do tumulo em que dormes
E vem sorrir de novo á boa, á eterna luz!
De noite, ouço dizer que ha sombras desconformes
E as noites do passado, oh, devem ser enormes
Na atonia fatal das larvas e da cruz!

Conchega gentilmente ao peito carcomido
Os restos do teu manto:--assim, que bem que estás!

Na terra hão de julgar-te um grande Aborrecido
Que busca desdenhoso o centro do ruido
Nas horas vis do tedio e das insonias más.

AOS CATHOLICOS

      Todos vós que sois sinceros crentes,
      Que oraes a Deus no intimo do peito,
                  Oh mysticos christãos;
      Embora tenha crenças differentes
      D'aquellas que seguis, eu vos respeito,
                  E julgo como irmãos!

      Eu amo a Deus; depois a Humanidade;
      Depois os bons, e d'estes o primeiro,
                  É Christo, o Redemptor!
      Não sendo egual em tudo á Divindade,
      É, como justo e homem verdadeiro,
                  Meu mestre e meu mentor!

AS VICTIMAS

Eu vejo muita vez e raro já me assombro
--Minha alma tanto afiz ás tristes commoções!--
Na rua, junto a mim, passar hombro com hombro
No transito penozo as longas procissões,

De victimas da sorte e victimas do mundo!
Umas boas, gentis, outras feias, crueis,
Envoltas n'um sudario ou n'um burel immundo;
Nas pompas theatraes, nas galas dos bordeis,

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