Geral

Sem Olhar, Sem o Olhar

Queria ver o que está
Cá atrás desse escuro denso
De minha cegueira,
Não me iludir ao sentir
O que me trouxerem,
E enxergar o que não vejo
Sem querer certeza.

Tatear sem a luz,
Desbravar o caminho,
Pisar um passo de cada vez
Para não chegar apenas
Àquilo que o mundo vê de mim.

Quantas vezes, olhei sem ver.
Vi o que não escutei.
Mas agora, sem espelhos,
Sou olhos de mim mesmo,
Reflexo de ninguém.

Os Sinos da Igreja Matriz.

Tocam os sinos da igreja matriz,
Uníssonos,
Arrebanhando fiéis,
Pecadores, fanáticos,
De rostos barbeados, 
Em roupas de atriz.
Vão caminhando para a praça,
Com seus sapatos engraxados.
Uns tilintando nos bolsos,
Algumas moedas do troco
Do parque de diversões
Para na oferenda bem servirem,
Para terem seus perdões,
Consagrarem os seus devires.

Chuva

"Chuva"

Cai chuva do céu
leva raiva embora
traz calma que não temos no dia a dia
a natureza pede trégua la fora

como é bom dormir ao seu som
trilhar o som e sonhar
sonhos de alegria
o mundo para olhar
parece ambiente e agonia

mas olhas
deixas um vazio em mim
deixas também as cores
embelezando o firmamento
mostrando ate as dores
que sofre pessoa ao relento
aquela fantasia que traz de volta um outro dia.
 

PFernandes

Não Diga Nada

Fala-me do fundo dessa tua alma,
Se sou homem que valha a pena,
Se tenho fatos que me inocentam,
Ou se não passo de um canalha.

Bata-me, mas não fique quieta,
Não me deixe como um asceta,
Que tudo compreende ou releva.

Aliás, é melhor não dizer nada,
Sei o que dirão as tuas palavras,
— nessa ocasião nada abstêmia,
Dirão que você é o meu problema.

Espelho

Vivo refletindo

Imagem e semelhança

Te vejo sorrindo

Seus medos e esperanças

 

Imagem que você é

Homem ou mulher

Pareça com o que é

Seja o que quiser

 

Com ou sem moldura

Mantenha a compostura

Independente da altura

Verdade nua e crua

 

Bonito ou feio

Mostro o que está à frente

Vejo tanta gente.

 

Espelho. 

Telefone

Estou sempre em tua mão

Pronto para qualquer informação

Nunca diga não

Mesmo quando é assunto do coração.

 

Faço parte de ti

Vou contigo a onde ir

Posso lhe fazer sorrir

Quase enfarta se esquece de mim

 

Colado em seu corpo

Fazendo um esforço

Acabando pouco a pouco

A espera do teu rosto

 

Sei de toda sua vida

Seus amores, suas birras

A conversa proibida

Sua música favorita

 

Sei aonde quer chegar

E posso te levar

Calado

Não fale nada. Permaneça em silencio.

Escute a voz que vem de dentro.

Existe aquele momento

Reflexão sobre espaço e tempo.

 

Tempo perdido, amor não correspondido

Sistema opressivo, trabalho excessivo

Calo-me por medo de ser abusivo.

 

Nada a declarar é o que tenho a falar

E falar não vai mudar o desejo de criar

Prefiro pensar à me expressar

Aqui não cabe julgar

Aprenda a respeitar

O direito de me calar.

Sem querer sair

 

                 Saudades que vem de lá

                 Que se chega sem querer sair

                  Abrigado, obrigado não quero ir

                  Cessará ao voltares para cá

 

                   Saudade instalada  dói 

                   Num processo incessante

                   Sem que me deixe por uns instantes

                   Minando enquanto  corrói

                  

                   Ao adormecer  sonho contigo

                   Sonhos  belos  e  estranhos

Não direi

             Hoje   não  direi de mim

             Nem dos seus olhos

            Direi do cravo e da rosa

            E  de todos do meu jardim

 

            Da rosa  amarela

             Dourada e perfumosa

            De pétalas  aveludadas

           Que insiste espiar pela janela

 

           Rosa carmim, o jasmim

           Petúnia e resedá

           Rosacéas do lado de cá

           Hoje... não direi de mim!

 

 Nereide

 

 

  

Só Aquilo que me Faltava!

Tem uma pálida luz do sol
Em meu leito,
Que parece que se esfria mais
Quando toco no gélido papagaio
Sob a coberta fina,
Um verdadeiro lençol.
As Pedras presas em meus rins
Continuam doendo
E não descem por nada!
Tenho a arrogância
Dum enfermeiro do dia,
A doçura das enfermeiras da noite.
Dou uma olhada pela janela,
Imagino o pátio lá embaixo.
Sinto saudade de casa, dos outros,
Dos meus oito gatos, dos amigos,
Até do irritante som alto no vizinho,
Das coisas pras quais eu prestava,
Pois agora estou impotente,

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