Poema amarrotado
Autor: Bruno Kinoshita on Tuesday, 5 September 2017Escrito em uma folha amassada e jogada para o mundo pelo nascimento:
E como eu pudesse
perder-me pela idade de fora
e a idade recém-nascida.
Escrito em uma folha amassada e jogada para o mundo pelo nascimento:
E como eu pudesse
perder-me pela idade de fora
e a idade recém-nascida.
Que seja forte,
Que seja sensível,
Que às vezes ama desafios.
Que tenha mais QE do que QI,
Que tenha paz de espírito.
Que nas suas folgas descanse até tarde,
Que goste do seu trabalho,
— mesmo que não trabalhe com o que goste,
Que nunca ponha o dedo na ferida.
Que fale a verdade na lata,
Que não chute o balde.
Que seja pai,
Que não queira ser apenas a eterna filha,
Que às vezes chore.
Que seja alegre,
Que simplesmente sorria.
O tempo é um pêndulo,
Areia na ampulheta,
Que não só quando no meio,
Tem dois extremos,
Um que veio,
Um que não tenho,
Um que é saudade,
Outro que é apenas desejo.
Sinto-me cansado, quero descansar,
fechar os olhos,
deitar-me ao lado,
aconchegar-me às palavras
de letras gastas, feridas, fartas...
Apetece-me...
Apetece-me roubar-lhes o pensamento,
esvaziar-lhes o sentimento,
deixando-as orfãs de flores, mar, sal, esperança...
Quero sentir saudade das saudades de ir até ao fim do mundo,
resgatá-las, abraçá-las, amá-las, tocá-las, senti-las e depois, sim...
Abandoná-las, a elas, as palavras
Quero brincar e chorar,
quero-as só para mim,
ficar com tudo delas...