estou numa montanha escabrosa entre os rochedos da virtude e o corpo duma mulher com tarefas ingentes que aperfeiçoo quando congrego na voz a poesia através da veemência que vou recolhendo na minha inspiração.
nutrifico os fardos que a memória transporta até à raiz dos meus pensamentos; até ao requinte que eu coloco nas imagens que alimentam os meus manifestos; até às sequelas traumáticas que eu capturo nas paisagens que vou desdobrando.
a poesia dilata-me o ardor quando expõe a rebelião que superintende os meus desaires ao imergir na raiz das minhas querelas; ou quando ingressa no lupanar existencial para lembrar os meus embaraços e os meus anseios.
Senhor Deus prudente
Dai nos paz
Uma luz divina a este rebanho
Perdoi os pecadores
Ajudai os sofredores
Mostrai nos a divina verdade
Do bem e da igualdade
Perdoai, eu e milhares
Que com a fé gasta
Somos demasiadamente sonhadores
Colecionadores de ilusões materialistas
Senhor Onipotente
Iluminai nossos corações
Aceitai esse tardio perdão
E mostrai que viver
No caminho do bem é a direção
Dai a todos alegria no coração
Um mundo justo e de paz
quero fragmentar os afetos que me descontentam através dos meus lampejos habituais; requisitar os fertilizantes que me consentem prosseguir no mercado da sobrevivência; condenar os timoneiros que incrementam a desdita de viver.
há atoardas singelas que eu vou desfolhando através da poesia: que eu transfiro das vicissitudes para suprimir os meus queixumes; que eu instalo no cerne das emoções para desdobrar os meus temas preferidos.
numa feira banal oiço os silvos da angústia e o palavreado de quem mobiliza a sua inteligência; oiço os pretextos dos habilidosos e as rebeliões dos sitiados quando o declínio esgarça os seus atributos; oiço aqueles que recuperaram o vigor examinando o seu próprio degredo.