a delicada redoma onde enfrentei os falsos amplexos; as múltiplas investidas da gente malvada; as suas atitudes prepotentes; as suas aleivosas intenções; os seus descaminhos inconvenientes.
há ferrugem na convivência quando os homens se metamorfoseiam em lobos ou revelam estados de alma desleais; quando os seus préstimos se traduzem em miragens que se dissipam rapidamente; quando concebem o negrume das falsas amizades.
se as pessoas aplaudissem o meu linguarejar e o meu valimento... se os cardos plantados na minha lembrança emurchecessem... se a rispidez em que fui educado se regenerasse em carícias plenas...
naveguei na crista duma onda impura para poder evoluir; para converter a minha existência numa poderosa afirmação pessoal; para me instalar numa tribuna e acolher os cânones da sublime liberdade.
recheio a vida com versos que anulam os diferendos que sustentei; que me presenteiam com ideias que se opõem aos adestrados caminhos da multidão; que me conferem o sossego de que preciso.
o poeta fenece nos lugares adulterados onde existe difamação; onde se mistura a acidez da sua vida com os seus percursos traumatizantes; com o naufrágio da postura venerável que ele aperfeiçoou.
há temas que me fazem entristecer porque caminham lado a lado com a minha primitiva intemperança; com as palestras carunchosas da minha juventude; com as reminiscências ásperas do convívio paternal.
abjuro a indolência para narrar as minhas rebeliões e os meus desacatos; para transcrever os meus aforismos poéticos; para quebrar a foice que amputou a minha mocidade; para devolver à minha vida a ênfase que ela possuiu.
toda a coragem é necessária para erigir o nosso futuro através duma poesia adubada pelo vento; através dos tratados dos sábios que estruturam as nossas reflexões; através das fragrâncias que descobrimos para ilustrar a nossa agudeza.
revogo o meu desassossego quando fortifico a concórdia e a temperança; quando transito por lugares onde vislumbro a bondade e a decência; quando invento panaceias contra as minhas desilusões.