Meditação

UMA FLOR

UMA FLOR

Virei costas e fui ver o mundo,

Fechei os olhos para não voltar.

Fechei a porta, com ar taciturno,

E vagueei por campos sem ar.

 

Quis esquecer, sem recordar,

Numa cega vontade de dor,

Num amanhecer de cinza sem cor,

Com a esperança de não voltar.

 

Assim, livremente, lá fui eu...

 

Inventei novos caminhos,…

Caminhei de pés descalços,…

Mil espinhos arrasei,

Em caules de rosas que pisei.

 

Nas tristes noites que chorei,

Bestificado

Bestificado

Está a sair como estivesse a entrar
Inconfundível demente
Bestificado pelo rigor do dia-a-dia
Pelo calor dos séculos ultrajado

Viste-se a entrar em sã imersão
Imergiu nos mais nobres pensamentos
Como que querendo somatizá-los
À flor da pele que carece de hidratos

Mas não pecou nem se liquidou
Diante dos destrates do rei bêbado
Do carvoeiro tingido pelo escuro pó
Do coveiro pálido de domingo à tarde

Nem só uma...

Nem só uma...

Meu mundo é pequeno
Não só pequeno ou apenas
Ele é distante, não apenas só
Também cambaleante

Meu mundo também é colorido
As vezes preto e branco, não só
Quando era cinza embranqueceu
Quando embranqueceu, iluminou

Nele não cabe um navio de livros
Nem só uma carroça de poemas
Nem ao menos uma criança sorrindo
Somente só um adulto gemendo

Somente cabe eu ressurreto
Sem qualquer sentimento insurgido
Desacompanhado de eu próprio
Passageiro de mim reprimido, neste dia, só.

Mundo pequeno

Mundo pequeno

Meu mundo é pequeno
Não só pequeno ou apenas
Ele é distante, não apenas só
Também cambaleante

Meu mundo também é colorido
As vezes preto e branco, não só
Quando era cinza embranqueceu
Quando embranqueceu, iluminou

Nele não cabe um navio de livros
Nem uma carroça de poemas
Nem uma criança sorrindo
Nem um adulto gemendo

Somente cabe eu, desacompanhado
De qualquer sentimento insurgido
Desacompanhado de eu próprio
Passageiro mim temporário, neste dia, só.

Às vezes fria

Às vezes fia

Poesia minha companhia
Às vezes quente, às vezes fria
Somente seu conforto
Me traz alegria

Se relembro desenterro
Se esqueço descrevo
Se me esqueço me encontro
No primeiro ato do escrevo

Poetizar no teu seio
É amamentar meus caprichos
De ser o que não fui
Naquilo que sempre anseio

De volta pra realidade
Só fico com sua saudade
De voltar a te rever
Poesia meu bem querer

Tilintar supremo

Tilintar supremo

No tilintar do sino tem algum aviso
Este gemido do ferro traz esperança
Ou simula uma desilusão findada
De alguém que já espectacularisou na vida

Pelas batidas insistentes é de desespero
Como o desembrulhar de um feito
Que fora desfeito por alguma causalidade
Ou pelo vexame de alguma maldade

Bate lá o sino, pequenino, sino do além
Se nasceu algum menino ou menina
Que venha nos acompanhar para o bem
Com saúde dos que aqui cantam sem rima

Mãe de todas as mortes

Mãe de todas as mortes

Se a morte não lhe assusta mais
É porque venceste na vida
Se a morte ainda lhe assusta
É porque tens longa caminhada ainda

Se o escuro lhe incomoda
Feche os olhos que verás
Que tens um escuro na vida
Maior ainda para superar

Se a solidão lhe destrata
Não se assuste pela sorte
Pois ela é irmã do escuro
Mãe de todas as mortes

Se a solidão lhe conforta
O escuro lhe acalenta
E a morte não mais lhe assusta
Superaste o que lhe impôs a vida injusta.

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