sou ousado quando desejo influenciar os leitores com palavras incisivas que prolongo desde o berço das minhas lucubrações; desde o meu exacerbado idealismo; desde a penúria sentimental que descubro nos anais da humana condição.
transbordo de ternura quando deparo com a inocência duma criança: com as suas lágrimas de protesto e com os seus salubres enlaces parentais; com as suas poses afetuosas que beliscam os juízos corrompidos da vida.
as histórias de amor fracassadas suscitam repulsa contra as misérias que elas contêm; contra os alvoroços que provocam; contra os seus pequenos e grandes ódios que conduzem tantas vezes a horríveis desgraças.
quero estorvar os desenlaces fatais dos homens que intentam subjugar o mundo; que desenvolvem sermões que adestram as nossas consciências; que ambicionam gerir as nossas atitudes e os nossos pensamentos.
um astro flamejante ilumina as quimeras adjacentes ao nosso desejado futuro; à nossa interpretação dos factos perniciosos que nos desagradam; aos nossos relevantes comportamentos para transformar este mundo tristonho.
combato as sociedades que amachucam o meu individualismo; introduzo os dissabores no âmago dos meus versos; circunscrevo as fronteiras da minha rebeldia; aparto-me das intrigas mundanas que prejudicam o meu bem-estar.
a realidade enclausura aqueles que pretendem transformar o mundo num gigantesco viridário; num lugar primoroso que retenha o melhor da natureza humana; que esprema o teor da existência através de imaculadas fantasias.
observo a gente desalmada que empunha a navalha afiada da traição; que instala o mundo numa retorta fendida pelos numerosos artifícios que produz; que sustenta uma virtude deturpada pelos seus rituais de malvadez.
as utopias expandem os seus clamores pelos carris do progresso através de discursos grandiosos onde irradiam o teor da mudança; onde expulsam os dísticos antigos para inventarem um universo original.
quero ultrapassar o desconsolo de resvalar numa corda bamba vacilada pelos temporais humanos; pelos seus espetáculos impertinentes; pelas suas aulas repletas de violência e de opressão; pelas infâmias que geram nas pessoas de bem.