Meditação

Jurei

Eu jurei que era

Eu jurei que sou

O Sol tenro da primavera

O frio do inverno que chegou.

 

O aspecto desta vida marginal

É uma esfera de altos e baixos

Como um transexual

Entre fêmeas e machos.

 

Não sou pessoa

Sinto-me coisa figurante.

Nem coisa má nem coisa boa

Mas de falta abundante.

Um livro abandonado à estante!

Borguês

Certos pensam que sou borguês

Porque marcho com os pés na frente.

Disso estou inteiro consciente

Nesta pele de burgo em viuvez.

 

Queria pular no vazio do universo

Penetrar esse vazio que me atacha

Viver na página do verso

Onde todo mundo me acha!

 

A minha borguesia 

É uma caixa vazia...

 

Lugar comum

Lugar comum

O corpo marionete da alma
movimenta pernas,
agita braços e perturba mente
com os desatinos existentes.
Perto de um lugar comum
onde corpo engole mente
mente engole alma
e o espírito engole todos.
Sempre assim desajustados
no menor sibilar presente
vemos todos os tempos
correndo juntos aos alentos
arrependidos e repetidos.
Os desatinos da alma e corpo
são como reflexos do corpo
se esvaindo na alma
de quem tem só desejo
de encontro ameno
nestes dias tão pequenos.

Pés e nuvens

Pés e nuvens

Por que se apressam meus pés
se sequer sei a distância
se sequer sei a tolerância
que a vida vai me pautar.
Parece que a pressa de meus pés
é semelhante às nuvens do céu
ao vento que sopra nos arranha-céus
que engole a garganta do abismo.
Encurto meu andar no escuro
espicho o meu andar no mundo claro
rompi com meu destino cruel
de ser andarilho do deslaço.

Gratidão

Gratidão
Virtuoso és se grato fores
este farol encandeie o caminho
no desposar desta virtude
seres sempre sabidamente.
Plana neste plano do saber
saberá recorrer seu querer
nos planos da tua gratidão
que padeceu pelo engano.
Seja astuto com a sabedoria
embeleze esta áurea de justiça
grato seja neste em todos os pontos
os que possam até existir, jamais.

Relógio

Relógio
O tempo esqueceu de apontar
algumas coisas que já não me lembro mais
me parece que o tempo só aponta
coisas grandes e as pequenas deixa pra traz.
Por isso não uso relógio,
seus ponteiros se cruzam sem nada marcar
só avisam que chegou a hora
que já vai correndo embora
na tentativa somente de me apressar.
Acho que por isto não encontro meu tempo
por estar mergulhado nas coisas pequenas
amparo-me nelas como se verdadeiras,
e quando descubro que não sustentam
dou volta e meia pra trás

Somente questão

Haverá algo mais verdadeiro do que ser pessoa entre a multidão?

Não sei quem o disse

Ou talvez saiba mas não me lembro quem!

Apenas acredito

Que ser-se pessoa na multidão

Poderá ser apenas um devaneio do nosso coração,

Ou talvez um arquétipo da nossa imaginação

Ou então uma imagem perdida na nossa lembrança

De sonhos tresloucados

Do tempo infinito do nosso ser.

Perdido na multidão deixaste de ser pessoa

Serás apenas ilusão,

Ou invocação do meu coração

A alma do meu personagem

às vezes fingia

saía de mim e retornava ao fim do dia,

morria o poeta ...

e salpicavam em mim noites intermináveis

de sabores amargos e funestos,

outrora sentidos e emaranhados no meu ser

mas agora apenas vividos

por não saber afugentá-los,

vencendo apenas a angústia mortal da realidade presente,

cuspindo os anseios do meu coração

e erguendo a voz abafada do meu corpo,

fingia ...

procurando constantemente pela minha alma latente,

sangrando e inundando o sol de breu,

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