trago na ideia as ignomínias que superei; as quezílias oriundas de conversas banais; as palavras que se inspiraram em quimeras volúveis; os lugares angustiantes que na mocidade percorri; as lições viciosas que me perverteram a alma.
os caudilhos marginalizam aqueles que nos encorajam com as suas cogitações; aqueles que nos legam palavras que mitigam a nossa dor; aqueles que demandam a lindeza da alma para erigirem um universo melhor.
protesto contra as fúteis desavenças dos homens; contra o enfado produzido pelas suas áridas instituições; contra as suas manobras torpes exprimidas em várias formas de ludibriar; contra os desafetos que habitam na sua convivência.
a imaginação progrediu através da aura de esperança que eu ostentei; através das interpretações volúveis que eu estabeleci em aparatosas utopias; através das posturas insolentes que qualificaram uma existência que fracassou.
a esbelta paisagem que avisto quando interrompo os ciclos da amizade para florescer na solidão...: os trâmites duma oculta guerrilha já não acalentam os sintomas danosos que me percorriam; os vocábulos radiantes brotam agora por entre os cardos da minha lembrança.
existe uma coroa de espinhos inscrita na minha biografia; um nexo fatal que resulta na minha arrogada solidão; um género de cântico que eu remeto aos leitores com as mensagens incisivas dum poeta maldito.
podem emergir as angústias que eu vencê-las-ei através das leituras sábias que realizo; através das façanhas escabrosas a que sobrevivi; através dos frívolos dilemas que entrevejo no semblante das pessoas banais.
sou alguém que já não tolera as leviandades humanas; as suas dívidas colossais para com aqueles que tombam como mártires nas brigas sangrentas pelo poder; as suas mágoas relevantes e os seus traumatismos perenes.
valorizo os anseios inseridos nas minhas reflexões porque deles extraio a poesia; os sigilos que decifro nos escaparates do meu isolamento; os sintomas desvairados que manifestei nos lugares recônditos que percorri.
Silêncio!
Escuta o coração pulsar
Bate e rebate
Marcando o ritmo regular
Não para, não!
No compasso acertado
Sem atrasar
Nem adiantar
No peito, a vida canta
Que tudo tem cadência
Tudo a seu tempo
Na dança da existência