uma flor no descampado
Autor: António Tê Santos on Sunday, 1 September 2024no limiar da consciência oscilou o meu destino entre a nociva gente que não renuncia à malignidade e a solidão dos eruditos que recusam o vigor alucinado das multidões.
no limiar da consciência oscilou o meu destino entre a nociva gente que não renuncia à malignidade e a solidão dos eruditos que recusam o vigor alucinado das multidões.
aumenta o bem-estar quando ultrapassamos o descampado da solidão para nos plantarmos num oásis intelectual; numa realidade amplificada pelas nossas utopias; numa estrutura imune aos tumultos que nos rodeiam.
desejo que a benevolência cruze as fronteiras do medo para influir nos nossos atos diários; que a esperança frutifique nos lugares insípidos onde a turba enregela; que a náusea de viver desapareça dos nossos tormentosos horizontes.
tiranizo a consciência para obter os resultados fecundos da mudança; para que recrudesçam em mim os exemplos de solicitude; para que pereça o desencanto nos meandros da existência que inventei.
as lágrimas embaraçosas que eu suprimi quando despertei para a razão... para uma intensa agudeza que me permite decifrar os enigmas da existência... para as doutrinas fulgentes que me transportam a lugares entusiasmantes...
os poemas lacrimados de outrora têm agora os selos da galhardia e do espanto: os seus pensamentos sobrevoam os mastros dum navio grandioso: alagam florestas ignoradas onde dilatam um carisma emocional.
explode o raciocínio na penumbra onde me situo porque eu reneguei os meus impulsos fatais: agora nutro um êxtase que robustece a minha atual compleição; agora possuo garras aguçadas que escoriam as sociedades.
tenho interesse pelas notícias que divulgam a atuação das pessoas insubmissas: elas percorrem as tubagens da vida numa cadência desvairada; numa catarse que as inflama quando sobem os degraus da violência.
a sensibilidade situa-se longe das nossas vidas quando não se avaliam os danos que emergem dos comportamentos arrogantes; quando não se impugna a malvadez que prolifera no cortejo humano; quando a alma desvaira no quadro tétrico em que se movimenta.
quando a náusea de viver me açoita eu obliquo para os trilhos da sapiência onde potencio os meus versos fecundos; onde sustento uma festa íntima até retumbar a alegria; onde a razão enxuga as minhas lágrimas pueris.