Meditação

Adormeço sob a sombra das palavras

Adormeço sob a sombra das palavras

 

Fala-me nessas doces palavras

que nascem contigo pelas manhãs

fala-me dos campos , das searas ondulantes

beija-me com a tua aura fresca e ténue

embala-me em histórias férteis , plenas de virtude

 

 

Lírios , girassóis , rosas , violetas

pomares , cerejas , amoras , morangos , framboesas

Primaveras dóceis

odores , cores , cristais de orvalho

...adormeço sob a sombra das palavras...

 

Poema da Pena

Corre devagar a minha pena molhada em tantos tinteiros....

Tantas manchas ilegíveis ....

Tantos borrões que mortos se erguem agora

Pegadas míopes de uma caminhada longa e escura com alguns flaches de uma musica nunca tocada

Tantas vezes ouvidas numa talentosa vibrante orquestra desmembrada .....

Tantos maestros gesticulam num ritmo quase infernal quase desesperado......

Ouve-se ao longe o ribombar de gente calada

Séculos de revolta desorganizada quase imperceptível que ninguém comanda ...

Poema aos sábados

Gosto de sábados assim…. sem novidades de atormentados odores de novos perfumes…..

Belos jardins de calorosas abraços de fechados braços mudos e silenciados

…..Pensamentos ás mãos cheias surgem de um quase nada instantâneo e repleto canto de sereias…..

Solidões de prazer semi frio servido em terrinas fumegantes em forma de concha ladeada de pérolas verdadeiras…….

convites envoltos em dúvida vagueiam em ondas sonoras de viagens sonhadas ….

Como quem assiste a tantos nadas de rara beleza ….

Noite Misteriosa

Noite Misteriosa

Aroma subtil de secreta escuridão

simples Profunda límpida perfeita

Reconhecida clareza de entendimento

É luminosa a nítida penumbra

Belos Círculos multicolores

Cascatas de abundante desordem

Envolvem misturas em regras ordenadas

Surgem na penumbra Fortes clarões

Lâmpadas acesas cegam olhares de nitidez

enganosa

São agora trevas de perturbante resplendor

Clarão de luz radiante invade meu ser

Ao Longe aproximam-se milénios de lucidez

Horrores de Felicidade

Em modo monstruoso se despedaçam sentires de doce sabor de framboesa envenenado……

 

Horrores de felicidade esfaqueada sangra em rios de marés esvaídas em dores de alma cujo corpo já não sente……..

 

Ao longe  vislumbro novos rumos luminosos….

 

Sai um negro fumegar abundante em  chaminés de lareiras crepitantes ………cuja chama já extinta lambe um braseiro atiçado….

 

Fogos de palha ardem num nobre coração que coabita em gélidas muralhas talhadas em belas arcadas de amor desmoronadas ……..

 

Um mundo gigante

 
 
 
O sol entre os telhados,
as andorinhas nos ninhos dos beirados...
 
-O vento tem coração?- eu perguntava.
-Tem-dizias- assim como os teus olhos têm borboletas a brincar.
 
A chuva quente de verão
em pingos grossos que desbotavam o chão,
que provocavam um cheiro morno no feno

Meu chão

Meu chão
 
Procuro meu chão na poesia
raízes ditas da civilização
tomaram conta do meu lugar
 
quero a inteligência das pedras
que me viram crescer
das plantas que cuidei
das amizades que reguei
 
ofuscaram minhas vistas
com novos muros de construção
casas vejo que não via
 
onde estão caminhos que percorri 
 
vejo-os nos novos

Hoje

Parar o agito da erva

açoitada pelo vento da cidade,

acalmar vagas

arrastadas pelo vento do oceano,

mover pernas

desordenadas pelo desencanto,

esbracejar ramos de floresta

apontados para o horizonte,

morder ossos abandonados por

desinteressantes.

 

Comer  a fome do amor

no fastio das jornadas,

beber a sede que refresca

nos oásis dos tempos

percorridos juntos

em abraços de oceano,

largo, de milhares de léguas,

encantamento de novos mundos,

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