às vezes o pudor brota dos nossos ancestrais para repercutir ditados vetustos; para gerar uma bonança que nos faça omitir os desacatos onde participámos; que nos faça lamentar as nossas proezas fúteis.
um vendaval sai pelas frestas da alma levando consigo os selos da hipocrisia; os enlaces pútridos que desprezam a honestidade; as atuações corrosivas que os dias vão produzindo; as virtudes balofas que se aperaltam nas pessoas.
inscrevo as análises nos meus tratos para eliminar as agressões que sofri; para que a nefanda gente seja banida dos meus pensamentos; para que eu me apoie num farol de resistência; para que a miragem da fascinação sobreviva em mim.
já não pergunto pelos anos que dissipei nos itinerários da minha existência: agora fujo dos sermões exaustivos que consenti; agora recolho o juízo que estruturei; agora regurgito as minhas convicções poéticas.
a maturidade sobrepôs-se ao destempero para irradiar o êxtase de escrever poesia; para que a alma abrangesse os míticos desejos que me conquistam; que me fazem sorrir nos meandros das orgias espirituais que inventei.
as palavras de rancor que eu discerni nos lugares túrgidos do mundanismo fizeram-me acreditar nas suas campanhas beligerantes; nas suas obstinadas tentativas para agitar as discórdias sem máculas nem contrições; no vácuo emocional que produzem.
concebo reflexões que desacreditam as turbulentas manobras que pretendem oprimir as utopias; que pretendem transformar em lodo as supremas virtudes do seu transcendente reinado; que pretendem emudecer a sua límpida voz.
eu quero erguer-me até ao auge da monotonia porque sei que o meu júbilo irá sempre pronunciar-se; porque sei que a poesia irá sempre difundir as minhas quimeras; porque sei que a memória irá sempre defender o meu futuro.
estou no centro do oásis que inventei para consolidar os meus versos com meditações basilares; com vereditos que acolham os meus lamentos pungentes; com os fundamentos lúdicos da minha renovação.
sou uma avioneta desarranjada pelas severas experiências de voo; sou um alimento destinado à subsistência diária; sou um saltarico que ornamenta a paisagem com as suas reflexões comoventes.