um visceral discernimento
Autor: António Tê Santos on Friday, 22 October 2021a impiedade dos homens quando constatam a rudeza da vida e os seus nebulosos momentos; as suas acometidas em escaramuças onde sobressaem ou onde se protegem das contusões.
a impiedade dos homens quando constatam a rudeza da vida e os seus nebulosos momentos; as suas acometidas em escaramuças onde sobressaem ou onde se protegem das contusões.
evito os contextos belicosos com o desembaraço do sonhador que obliqua pelas intermitências das suas mágoas; e exteriorizo os meus discursos contra os açaimes mundanos e as suas grosseiras provocações.
uso a vontade para foragir dos clamores da lembrança expulsando as opressivas tentações; uso palestras que se impregnam num doloroso convívio juvenil; e uso subtilezas que se condensam num oásis promissor.
reformulo os versos que narram agruras porque nomeio a tristeza como um dano que extraio das lidas mundanas; espezinho os diplomas do meu titubeante sucesso para que os cardos da vida deixem de oprimir as minhas utopias.
uma estrutura solene irradia falsos amplexos que se repercutem em mim a todo o momento: impulsiona o séquito exausto que superintende as minhas anacrónicas redundâncias; obriga a minha poesia a resguardar-se nos labirintos da solidão.
Quantas expectativas, miserere!
Minha alma tão cativa não liberté
Irracional é a vida que dizem fraternité
Entre dominus incoerentes
Só Deus mesmo para interceder
Todo mal tem veneno
Todo bem é fino sereno
Mais forte que a morte, é eu não esquecer
O que ainda espero da vida e égalité
O amor desta rosa désirée
há um chão fértil que rasura as minhas equimoses; um anunciado debate que suplanta as minhas insalubres tentações; um feitiço que se apura nas expressivas imagens que persigo; um realçar das ideias que sustento e que transpõem o limiar da erudição.
quando a penumbra se dissipa há um mítico sucesso que encarcera a nossa amargura, retorcendo-a e desbastando-a; há uma paisagem entoada pelos cânticos que se debruçam das varandas da nossa memória; e há uma catarse que se aprimora nas incisivas viagens em torno de nós.
as marcas herdadas
pelas rugas do tempo
acompanham a noite
como um peixe tatuado
que flutua insólito
no aquário da sala
pelas suas margens e algas
-em instável desvario-
inscrito no espelho do medo
e ecoando através da madrugada
feito um insone tormento
tortura e açoite gratuitos
ditos à meia voz
por delinquentes “espíritos”
pesadelo náutico
ou chuva desértica
maremoto incontido
interrompido no parto da alva
sentença de remissão