Meditação

PRINCÍPIOS

Nada do que escrevo é em dose homeopática,

A alopatia é parte integrante do meu veneno,

Às vezes vejo tudo grande e o que é pequeno

Se transforma e assume proporções enigmáticas.

 

O mundo me parece ontológico... o que fito

Leva-me a pensar que o homem soterra valores,

Afugenta de si a essência dos verdadeiros amores

E nas figurinhas que troca engana o próprio fisco.

 

Perante o ecletismo da vida há hediondos parasitas

Que difamam o social em suas teias assaz infinitas,

GARIMPEIRO DAS MADRUGADAS

Sinto-me moleque a garimpar ilusões,

A travestir-me de Dom Juan e caçoar raparigas,

Plenamente indiferente ao ribombar das intrigas

E mercenário das palavras que entortam corações.

 

Vejo-me caduco ao recordar tais intrujices

Que fizeram de mim mancebo de mil faces,

Usei a inteligência como símbolo dos disfarces

Que interpretei cabalmente em minha meninice.

 

Os anos deixaram no tempo dissabores profundos

E ainda me rio ao lembrar que fui o vagabundo,

Estertor das madrugadas e lampião das donzelas...

DUAS METADES

Há momentos que sou apenas metade de mim...

 

Talvez línguas desvairadas perguntem:

E a outra metade? Que vem a ser dela?

 

Não sei... Quando vivo uma metade,

A outra simplesmente se esconde, some,

Nem imagino sequer o paradeiro dela...

 

Na verdade, estas duas metades são extremos,

Cada qual tem vida própria, mentes individuais,

É como se fossem estrangeiras, não se entendem,

Nunca se encontram, sobrevivem a distância.

 

Às vezes é trabalhoso adaptar-se aos engenhos

DONO DE MIM

Sou conexão entre o que penso e escrevo,

Em derredor de mim há arraigadas piratarias

Que tentam inundar-me de febris utopias

A fim de manipularem livremente meu acervo.

 

Sou estilo formatado num conteúdo definido

Em que a sensibilidade sigila planos fabricados

E dá à argumentação estradas sem ser atalhos

Por onde vagueio e exponho meus arquivos.

 

Sou particular dos enredos... Tenho oficinas

Que tecem meus retalhos e são minhas minas

Onde a criatividade adormece...  e desperta!

 

Poema improvável

~~* ~~* ~~* ~~* ~~* ~~*

Eis aqui uma folha de papel:
Branca, virgem, imaculada...
Simples e modesta como tantas outras.

Ante ela, olhares e sensibilidades múltiplas
Podem sempre ter reações distintas:
Encolher os ombros, ignorar e olhar sem emoção;
Ou imaginar cores, fogo, arte e vida;
Ou sentir ali, de forma espontânea, poesia em bruto.

Um poema pode pura e simplesmente
Ser invisível e não ter presença física
E passear-se no ar, com o vento e o sol,
Qual espírito de luz que alguém há-de absorver.

Caminhante da paz.

Caminhante da paz.

 
Caminhante da paz.

Foto Web.

 

Eu sou um caminhante desta vida,

o que leva a palavra amiga,

que conforta o aflito,

e acalma o seu conflito.

 

Mas eu sou,

o andante sem destino,

o amigo que está contigo,

que conforta o seu amor ferido.

 

Eu sou,

a parte do tempo perdido,

a conciliação do amor rompido,

escuta o que eu digo,

eu sempre a quero comigo.

 

Mas eu sou,

aquele que você não vê,

mesmo assim em mim você crê,

pois sou a essência de seu viver.

 

Sou a sua prova vencida,

e o verdadeiro sentido da vida.

 

Pois eu sou,

aquele que lhe traz conforto,

aquele que escuta o seu lamento,

que rogaste neste exato momento.

 

Sou o destino das escrituras,

o juiz justo desta sentença,

para o pecado da demência,

e o perdão para o inocente,

deste mundo decadente.

 

Sou aquele que lhe ama,

mas  não se  engana,

desta palavra de amor,

pois sou dele o único semeador.

 

 

Sou simplesmente a essência,

da vida ou da morte,

também sou aquele que dará clemência,

pela sua obediência,

meu filho e filha querida.

 

Recebam agora as minhas bênçãos,

em forma desta oração,

que abrandou seu coração,

neste momento de reflexão.

 

Leandro Campos Alves.

 

Leia mais: http://www.escritor-leandro-campos-alves.com/products/caminhante-da-paz-/
 

Diário de um dia esquecido

No tempo explêndido
e contido
partirei em vagas sentidas
camuflado entre as ondas
de tantas alegrias divertidas
que por fim
inundam nossos porões
de tanta poesia
 
irrompendo o dia
tornaste-me ousado
nos ventos idos
ao dobrar cada esquina
e cada artéria que meu coração
desperta cismado em euforia
numa cavalgada e perversa arritmia
FC

A musica no silêncio

E então
a vida pode ser bela,
se assim deixarmos
que seja sorvida
em goles sinfónicos
abstractos
neoplatónicos
em cada compasso silencioso
mais atónito
que o próprio silêncio
em movimentos irónicos
comtemplando
confidente
e assincronamente
todos os silêncios que
assim conivente quero e invento
FC

Todo o (im)possível

Tantos dias
 
a tentar corresponder
 
como fogueira do amor
 
acender-te incandescente
 
e se de mim depender,
 
vou defender todos os impossiveis
 
sem contudo me esconder
 
deste fogo eferverscente
 
que ainda me ousa envolver
 
que se atiça, tarde em ceder
 
neste meu céu infinito ascender 
 
FC

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