Natureza

Ilha deserta.

Queria percorrer os sítios que já vi sem pensar, fazer o que já fiz… Não é preciso pensar para, ouvir, sentir, respirar… Gosto de viver por impulso, por instinto, procurando… Quando pensamos demais por vezes deixamos de ser quem somos.

Nunca vou conhecer-me totalmente, o pior é que gosto de ser assim, sinto-me atraído pelo desconhecido, por tudo o que é diferente e estranho! Sempre pensei nisso, é quase uma necessidade, tem a ver com a vontade.

Deitado no chão de palha

É bom sentir o mundo, gostava de o abraçar inteiro de uma só vez. Como não posso, tenho que abraçar uma pedra de cada vez e olhá-las com calma, uma por uma, pois todas elas são diferentes e também são vida, tenho que ver o mundo um bocadinho de cada vez e voar baixinho. Comer melancias, pêssegos de agosto, ameixas, peras doces, beber a água fresca das fontes, trepar árvores antigas de olhos fechados, agarrar os varões das pontes, mergulhar lá do alto e confirmar se os peixes ainda se escondem nas mesmas tocas das paredes de pedra do rio.

Balfusca

Parece que já vivi duas vidas muito diferentes, a do campo e a da cidade, a de miúdo e a de adulto. Lembro-me da primeira, ainda consigo ver os pequenos caminhos que nos levavam aos ribeiros, aos poços, às searas e às florestas.

A casa da minha avó ficava junto a um ribeiro. Podia pescar pequenos peixes, enguias e por vezes solhas de água doce; podia nadar, mergulhar de cima de uma nespereira e caminhar na rua dos buchos.

Noite estrelada

Noite estrelada

 

Olhei o Céu

Desde a minha janela

Mas que lindo que estava

Perfumado de estrelas

Uma delas com um brilho especial

Quanto mais a observava

Mais ela se distanciava

Então resolvi falar-lhe

E ela voltou cintilante

Falei-lhe dos meus sentimentos

E seu brilho expandiu-se às outras estrelas

Meu coração batia cada vez mais forte

Penso que me escutava em silêncio

E me levava para outra dimensão

Onde te podia sentir

Falei-lhe da minha saudade

Noite de luar

Noite de luar

 

Noite de luz prateada

Noite bonita romântica

Noite encantada

Trocam-se beijos

Às escondidas

Há ausência de vento

Ao anoitecer

Estrelas brilham

No firmamento

Testemunhas e confidentes

Abraçam a noite

Vestida de prata

Cintilantes e atraentes

Noite de luar

Noite de lua tão bela

Que convida a namorar

Há sonhos no nosso olhar

E a noite não morre

E tão pouco a sede de amar

Nesta noite de luar!

Mar revolto

Mar revolto

 

O mar está revolto

O vento levou-me para longe do cais

Rasgou as velas do meu barco

O “mar”, que veio dos teus versos

Hoje está revolto

Suas ondas precisam recuar

Meu coração perdeu-se no vendaval

Absorveu-se nos mistérios desse mar

Numa melodia saudosa e medieval

Todo o seu cheiro é peculiar

As gaivotas voam em bando

Conjugando o verbo amar

E o clamor da onda que desmaia

Bate e rebola pela praia

Bate na falésia e silencia

Montanha esquecida

Montanha esquecida

 

Rasgo folhas de papel

Desfolho rosas brancas

Em pedaços de vida

Aceno à vida de mim esquecida

Escalo a montanha

Vejo a meninice enternecida

Procuro alívio para o desencanto

Sinto ecos dentro de mim

Evaporei no tempo para meu espanto

O vento sopra-me os cabelos

A chuva, chora no meu regaço

Vagueio sobre estes aguaceiros

Perdida em versos

Outrora fui poema

Embrulhado em sorrisos

Fui água cristalina

Com brilho de diamante

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