Prosa Poética

Fait accompli

Consumou-se a noite num carrasco silêncio redundante e supérfluo
Tão melífluo quanto aquele breu perdido no cardápio do tempo dulcífluo
Tão pérfido quanto um lamento permutado por angustiantes uivos impudicos
 
Consumado o tempo alimentou as entranhas desta solidão indulgente

Naufrágio ao luar

Naufragou este luar emborrachado por um licoroso eco semântico
Foi o prelúdio das palavras aconchegadas a um negróide desejo apoteótico
Foi o derradeiro espasmo deixado no velório de cada sussurro tão osmótico
 
Nas vastas planícies da noite escorrega a maresia tão bêbeda, tão impotente

A camuflagem do silêncio

A camuflagem do silêncio é esbelta, serena, pacífica e reverente
Forja da luz subtis fluorescências tão alucinantemente omnipresentes
E de olhos nesta solidão candente amara além o céu vibrante e transparente
 
A camuflagem do silêncio dilui-se no tempo e em cada hora irreverente

Onde caminha o mar...

Caminha o mar sobre as margens da maré tão alta, tão paliativa
Numa amálgama de palavras marulha a maresia ainda mais afetiva
Além uma elástica prece apascenta a fé que brada domada e depurativa
 
Nos caminhos do mar o tempo navega à bolina de uma brisa exaustiva
Irradia aquele reboliço de ilusões coloridas por ondas de afetos imperativos
Quase maquiavélica cada hora flerta um sedento enamorado segundo furtivo
 
Frederico de Castro

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