Prosa Poética

Pela estrada fora...

Pela estrada fora...
 
e provavelmente em outro espaço do tempo
viveremos cada lua e cada brilho de sol 
como quem não fita 
nem mais entende
percorrendo sempre a mesma estrada,
aquela estrada 
onde os nossos passos 
deslizam sem cessar ao compasso
cauteloso perdido entre dois caminhos
sem erros impossíveis
nem fracassos admissíveis
FC

Entre margens

Entre margens
 
Então, deixa somente
que o vento corra por nós
e entregue no tempo que cede
uma brevidade lânguida e súbita 
nas gotas de chuva que caem
 
colorindo teu galope atado
ao corcel louco desenlaçando
o uivar dos ventos
florescentes errantes
decapitados entre margens
desprendidas ao acaso
 
entre rios dançantes que ressoam
e ressoam famintos por atingir 

As leis do silêncio

As Leis do silêncio - aos meus amigos, todos
 
E será aqui que se constroem hinos 
e versos gloriosos,
mais que toda a subtileza humilde
onde algemamos nossas paixões
imensas
saudades tantas 
sem se revelar qualquer segredo
edificado na sabedoria arquitectónica
onde as pontes que nos unem às margens
aos afectos
aos desejos e existências
sem leis nem silêncios perpétuos
por fim

Perdidos no tempo

Perdidos no tempo
 
Neste presente ou futuro
sou o livro que lês
as palavras que discurso neste modesto
e intempestivo feixe de luz
maravilhado na fronteira inacabada
entre o sol e a lua
dissolvidos, insânos 
sem espanto 
contendo nossas mãos 
vazias com um pouco de nada
 
construímos valores magnos
implementamos leis e princípios 
com deveres, saberes e sabores intemporais

Aos Ares

Entre o espaço vago, os dedos enlaçam o que encontram. A ventania começou. Meu peito é tanque em ebulição. Abastece-se daquilo que faz os cabelos das moças invadir os rostos desavisados dos que seguem atrás. Aditivo de Afrodite. O perfume. Enquanto os fios chicoteiam minha barba, o aroma impregna. Aproximo meu rosto. Castigo afável. Mesmo sendo o único momento do dia em que receberei algum afeto despretensioso, seguirei mais feliz para o meu espaço em branco.

As mesmas lágrimas

As mesmas lágrimas
 
Sinto ainda teu brado
aos meus ouvidos 
reveste-me teu presente
embebido no ténue futuro, 
e pinta-me teu perfil elegante
aos olhos de um simples mortal,
não com a mesma tinta indelével
mas com sabores absolutos
que a vida cruel às vezes dissipa
 
Derrama-me as mesmas lágrimas
aos olhos de quem nunca chorei
reveste-me a fé que abala
hoje livre de angústias e tristezas

Ventos encurralados

Ventos encurralados
 
Imagina aquela aguarela
onde pincelámos todas as centelhas
coloridas prateadas 
pranteando em mais 
uma alvorada da vida
com timbre casto
nas vozes nocturnas
sem calar meus versos desencantados
arraígados na boémia da noite
 
fecho os olhos e sigo cavalgando
o Sol do meu universo
diante desta janela para o mundo
embebedando-me desta saudade danada

TEMPO DE ESCOLHA

Tenho andado por ai em silêncio.
No mais completo silêncio de mim!
Tenho andado por ai sorvendo a vida.
Sentindo o gosto de desilusões.
Tenho me divertido com a sorte.
Andado de mãos dadas com um certo tipo de azar.
Por que não?
Tenho percebido que é de momentos ruins
Que renasço para viver algo bom.
Tenho ficado em silêncio.
E nele aprendo todos os dias uma nova lição.
Tenho cicatrizes malditas que me fazem chorar.
Um sorriso que é triste quando me encontra.

Lugar...nenhum

Lugar...nenhum
 
Com pedaços de mim 
eu monto um plácido amanhecer
onde tudo se representa nas minhas
adormecidas invenções 
e dizer-te nada é tudo que minha poesia 
verdadeira em repercussões caladas
ergue perante a soleira
do teu olhar em cinzas derramada
 
sei que jamais pode haver ausências 
que supram nossas saudades
nem da boca palavras que suportem
todas as aparências hoje reveladas

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