Prosa Poética

Mataram os passarinhos de Deus

Corpo Vivo (1962) é um instigante romance regional do escritor baiano Adonias Filho, que me causou grande impressão. Assim sendo, compus estes versos (em 1990) baseado no enredo, extraindo os ápices da trama que se desenrola no insólito sertão do sul da Bahia. 

Compartilho com os amigos. Apreciem e se gostarem, comentem. 

 

O Milagre tarda

Ouve-se a harpa intocável da poesia Outonal

inclinada para o nada,

tenho saudades de nós,

da nossa primavera naquele banco distante.

 

Meus pássaros batem as asas

contra O milagre que tarda,

precisam dos teus ombros para repousar,

há tanto dentro para viver

e os meus pássaros teimam morder as cordas,

as fibras e os nervos toda a hora.

 

Dois corações famintos morrem

Pássaro no Deserto

No ar que inspiro,

quero a tua boca em fogo que amanha o grito,

minha boca na tua  boca sorva as sílabas

até ao silêncio  da sombra desta escrita.

 

Sacia a fome e a sede neste livro

de alma inquieta,

percorre o próximo instante

por entre as flores do olhar roubado

que leva o silêncio à boca.

 

Nesta ondulação vaga de olhares,

a ante-manhã transparente,

Terra de água

A mulher errante não quer mais casa,

nem cama,

nem mesa,

coloca toda a vida nos vendavais.

 

Nasço só para ser a tua boca,

a mais próxima da minha.

Beijos de fogo

com seus sismos de silêncio

 que ensinam a florir.

 

Respira apenas o fogo indefinido e

guarda muitos nós antigos na

funda da derme para explicar quem é,

é terra de água.

 

Esperança

Chegarás de mansinho,

perfumando as sombras do Jardim,

encarnada na mais bela flor

que o campo do meu coração acolhe,

e não deixarás nunca a minha Alma sangrar.

 

Chorarei  de alegria,

para que dela faça uso.

 

Gila Moreira 21/03/2014

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