Prosa Poética

Excerto sobre a linguagem

Como introduzir um sentimento em linguagem? Pouco importa o que expressamos, nunca é de fato o real sentimento citado, apenas meras idealizações pueris da nossa cognição. Por qual motivo usar a dor como motivo de marketing, senão a promoção das iguarias saborosas do sofrimento alheio? Cada um degustando o prato da lamúria do outro, contemplando a dor de outrem. Já dizia o velho rabugento de outrora: ''A única alegria do rebanho é quando o lobo come a ovelha do lado''.

Infinito paradoxo

Neste infinito paradoxo ausenta-se a lógica e a antítese
Dos silêncios paralelísticos, linguísticos e tão contraditórios
Resta à intuição lúcida e incoerente redesenhar as mesmas
Discrepâncias contidas em tantas palavras impugnadas e irreverentes
 
Neste infinito paradoxo a convexidade de um eco plana à superfície

No meio de mim

No meio de mim flutua uma prece corroborante e prolixa
Sucinta toda ela se engalana de palavras corteses e profundas
É o retrato da fé que se esgueira no meio de luminescências fecundas
 
No meio de mim o silêncio traduz-se num eco casto, esdrúxulo e gentil
É o axioma matemático onde se multiplica um afago e um olhar de perfil

A serenidade dos silêncios

Vi-me dentro da bolha dos ternos silêncios estáticos
Deixei a alma fundir-se com todos os lamentos axiomáticos
Deixei as palavras exprimirem sua raiva contida num uivo selvático
 
Na serenidade dos silêncios flutua a manhã convertida num eco apático
Perdido na serenidade do tempo esvai-se um segundo bravio e matemático

E depois da guerra...

E depois da guerra… a vida esvai-se esventrada, quase excomungada
Em plena escuridão escorrega um absurdo breu deprimido, derrotado
Ali peleja um abrupto lamento, qual clangor ou gemido não acudido
Apavora um silvo doloroso, quase perpétuo, fluindo tão contundido
E depois da guerra…vagueia um triste lamento asfixiado…quase aturdido

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