Saudades
Autor: DiCello Poeta on Thursday, 8 June 2017Que saudade
são tantas lembranças
Que saudade
são tantas lembranças
Jau - 1
É uma história que tem como protagonista o cão que marcou a minha infância, o Jau, um pastor alemão que o meu pai trouxe da Guiné Bissau algum tempo antes do fim da guerra.
Era um cachorrinho, a minha mãe colocou-o dentro de uma sacola, deu-lhe um comprimido para dormir e escondeu-o com algumas roupas. Nesse dia no Aeroporto da Portela, a minha avó gritou - “Olha o Zeca de bigode!”.
A vida é um somatório de momentos, de instantes, não existe nenhum conversor de escalas que os quantifique, podem durar uma eternidade ou simplesmente nada, ultrapassando o tempo sem deixar rasto.
Poema de outrora
Quando me deito em prado verde
Sinto o olor das flores silvestres
Perfumarem meu rosto com seu afago
Adormeço profundamente em relva húmida
Ao som do cantar das cigarras
Desce sobre mim o céu azul
Tua voz serena me desperta
Quero apenas ler, ler o que não vejo
Encontrar o poder de voltar ao mundo
Que perdi, sem o viver
Procuro lembranças que não existem
Outrora não era o que parecia…
O sol é belo, dizem os pássaros
Desde o aconchego dos seus ninhos
Repouso da saudade
Memorias arrancadas
No peito guardadas
Esperanças perdidas
De abraços teus
Olhos molhados
Rasgando rugas
Pensamento meu
Em versos se escondeu
Dor renitente rasga a alma
Sedenta de versos teus
Há poemas que beijam
Bocas silvestres
De luz intermitente
Na áurea terrestre
Refugio-me nos teus olhos
O TEU OLHAR
Nos teus olhos
Que hoje já não me olham mais
Consigo ver o mundo que deixaste
A paz, a luz, a cor da vida
Consigo visualizar todo o amor
Que deixaste em mim
Pelos teus olhos
Vejo o mar que vais velejando
No céu do meu pensamento
E carrego o encantamento
Que a vida me ofereceu pela tua mão
Teu olhar tem a pulsação do amor
Teu olhar é orvalhado de ternura
Teu olhar é um poema de saudade
Teu olhar é um riacho sereno
Os homens da minha aldeia morrem cedo, as suas mulheres vestem-se de preto, é uma fatalidade que aceitam com sofrimento e serenidade, com coragem… Sempre assim foi.
As mulheres vestidas de preto olham o futuro com determinação e transformam o presente. Trabalham descalças no verão, cultivam, regam, lavam, cozinham, abraçam os filhos, choram…
Quando caminham para o campo sorriem, vivem as emoções certas nos momentos certos, têm as palavras certas para dar às pessoas certas, têm a alma aberta e o coração fechado.
No oitavo mês
Dia das mães,meu aniversário e eventos,
Em meu pensamento,
Muito tormento,
Mistura de sentimentos,
Sendo assim...não comento,
Só espero os acalentos,
E junto com o vento,
Se vai o lamento,
E o palhaço correndo,
Em busca do reconhecimento,
Justiça e merecimento,
Poesias e discernimento,
Orações para o ferimento,
Benção para o arrependimento,
Nos unimos no sofrimento,
Buscando o alimento,
Nos piores momentos.
Solange Pansieri
No sétimo mês
Dureza lidar com a saudade,
Com tanta serenidade,
Essa é a verdade,
E ao cair da tarde,
As vezes parece maldade,
A minha realidade,
Um verdadeiro massacre,
Caminhávamos a tarde,
Conversávamos sobre a eternidade,
Mesmo com adversidades,
Hoje...para encontrar a felicidade,
Me esforço barbaridade,
Buscando na espiritualidade,
Força e responsabilidade,
E quando a tristeza invade,
Choro e peço piedade,
Com toda voracidade,
Pra esse Deus de verdade.
No sexto mês
Comecei com a poesia,
Tentando, em tudo, ver alegria,
Com o tempo...quem diria,
Que muitos amigos eu tinha,
E eles me acolheria,
No mundo em que eu vivia,
Solidão me perseguia,
Conversar não conseguia,
E viver assim, não poderia,
No abismo cairia,
E nada mudaria,
Pra sair da agonia,
Precisava de companhia,
Muita coisa não sabia,
Por tudo que passaria,
A vida ensinaria.
Solange Pansieri