Soneto

Infrene

"A arte termina na forma, mas é na emoção que começa."
FERREIRA, Vergílio “Arte Tempo”, edições rolim

Fúlmen, Plutão, borrasca, saraivada,
Taranis de Lucano que abalroa.
Alopsíquica, norte, eixo ou genoa?
Voragem insana que insta a mente alada.

Na fímbria dos meus dedos, quente, ateada,
Ela freme, no enlevo, ábsona soa
A toada, como intrínseca garoa,
Incoa a reivindicar voz n'alvorada.

Geometrizo-a em criação ilocucional,
Adstrinjo-a, tecnicizo-a em fria escansão
Aflo a sublimidade com a qual

Sem Norte

"O destino marcou-nos com o sinal dessa procura e em todos os recantos de existirmos ele se manifesta."
FERREIRA, Vergílio “Arte Tempo”, edições rolim

Marmórea a Mnemosyne, eu nua em espuma
Impoluta, fremente ranjo os dentes,
Mordo arrepsia acerada qu'entrementes
Implexa, me atordoa. Imerjo enquanto uma

Bússola me evanesce e mais nenhuma
Efígie reverbera tão fielmente
Senão uma rosa branca, e de repente
Dissolvo-me - sou cinza que avoluma.

À Bolina

"Deus fez-nos cheios de buracos na alma e o nosso dever é tapá-los todos para navegar."
Vergílio Ferreira

Nem Píramo nem Tisbe ou o pote d'ouro
Após o arco-íris, como combustível
Ou o declinante Hyperion do Keats crível
Qual gnose dum mirífico vindouro?

E nenhum barlavento haure fulgor
Ou estro, qual vão lirismo incognoscível.
Talvez o Endymion porque imarcescível,
Assim invicto em confluir ou a fé que for.

Dentro

"Ser forte à custa alheia é ser fraco à custa própria."
Vergílio Ferreira

Sitiados nas masmorras da existência
Atirados com força à pedra dura
Multidão emparedada não murmura
Antes grita muda à geral anuência.

Catacumbas de sonhos na eminência
De esvaecer, aluviadas n'amargura
De tudo o que de belo se afigura
Intangível - delíquio, sobra ausência.

Óbice, abnegação ou ádvenas desígnios?,
Dos tantos apartados ao anseio d'âmbar,
Todavia há inescrutáveis ortos ígneos

Ser Lusitano

Ser Lusitano

 

As águas extravasaram o leito,

As feras desceram à cidade,

Mas do ilustre Lusitano peito,

Ouviu-se o grito da Liberdade.

 

Todos os Deuses se reuniram,

Bruxas e demónios acorreram,

Do ilustre peito Lusitano saíram

Gritos dos que não se submeteram.

 

Nos mares, Sereias se calaram,

Temendo tamanho terror,

E até Musas se resguardaram.

 

Exaltou-se ilustre peito Lusitano

Enfrentando, sem qualquer temor,

O Mostrengo em pleno Oceano.

 

Da Despedida

 
Escreva, no fundo da epiderme, o fim deste encanto!
Transcreva, no fundo da hipoderme: não há santo...
Prenda em sua memória, se capaz for, com adraganto,
o fim, ignore, leve este último piricanto!
 
Como um canto, a reprise deste encanto.
Com espanto, percebes que não há encanto?
Não há, entre os mortais, nenhum santo?
Princípios, jogue todos em algum canto!
 
O fim daquilo que tanto você negou...

Sobre a Humanidade

Não consegue provar nem sua própria existência
Como queres, divina, explicar o iminente caos?
Como queres, como cínica, explicar naos?
Talvez seja esta a nossa verdadeira prepotência
 
Não prova, o que consegue, a existência própria?
O caos explica, cinicamente, como queres?
O naos explica,  divinamente, como queres?
Talvez seja esta a nossa verdadeira inadimplência...
 
Repita este canto: não tem explicação...

ONDE ESTÁ VOCÊ MENINA.

Onde está você menina...
Que um dia vi na janela?
Pra mim, a moça mais linda!
Dentre outras, a mais bela!

Sonho de adolescente...
De um tempo bom que passou!
Talvez a saudade em mente...
Da sedução do amor!

Será que de fato existiu!?
Ou quem sabe não surgiu...
De uma paixão desconhecida!?

Me vem a mente a mesma tela...
Emoldurada por janela...
De um amor despertando pra vida!

(Autor: Divacy Lemos)

SE EU APENAS UM DIA...

Se eu apenas um dia...
Dedica-se a você!!
E os outros como seria...
Sem você no meu viver!?

Se eu apenas um dia...
Falasse pra ti: eu te amo...
Confesso, não viveria...
Se dois em um é o que somos!

Tu és mulher: vida minha...
Sempre a minha menininha...
Amada...o sonho meu!

És o Sol na minha vida...
E todo dia querida...
Serei sempre o homem seu!

(Autor: Divacy Lemos)

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