Soneto

GRITO AO VENTO

          Grito ao vento

 

No cimo da montanha que escalei,

Olhei a vastidão ! Pus-me a gritar

Bem alto. E o vento forte a soprar,

Levou os sonhos ocos que criei.

 

Gritei as alegrias que guardei...

As risadas nascidas a chorar !

E os dias vazios por que passei

E as noites escuras, a cismar !

 

Só o eco da montanha respondeu !

Senti-me desprezada...abandonada.

Uma alma só... sem sombra...ignorada !

 

__ Mas que tonta !!! ( Minha alma escarneceu ! )

MANTO SOMBRIO !

         MANTO SOMBRIO!

Que manto roxo anda a tapar meu sol ?!

Não o deixa afagar-me docemente...

Cruel maldade, esconder meu farol,

Prender a claridade, ousadamente !

 

Este xaile preto, que a luz afasta

E põe negrume às noites estreladas !

Empalidece-a...tortura ...e mata...

Leva as estrelas... põe-nas recolhidas !

 

Cada vez que me encobrem, esses mantos,

Sou sufocada, envolvida em poeira...

Vêm sombras...conduzem-me à cegueira !...

 

Num outro lugar, não haverá prantos...

???

        ???

Já esqueci alguns quiméricos sonhos.

Ou perdi-os  na névoa dos caminhos !...

Porém, uns persistem, p'ra sorte minha

Imbuídos de força de rainha !

 

Há um tal !... de grandeza desmedida...

De teimosa vontade. Consentida !

Um grito ! Uma paixão adormecida !

Uma sombra ! Às vezes tão perdida !...

 

Sonho que m' envolve de paz ! M' embala !

Calado !... Mas que ecoa bem no fundo 

No coração,  que em silêncio fala...

 

Sonho ?... Ou ambição ?... Será credível ?

PERFIL

                PERFIL

 

    A terra, a mim, nada me deu de graça.

    Nem fui levada a braços, em liteiras.

    Mas deu-me força incrível ! De guerreira

    P'ra buscar mais alto o que o sonho alcança !

 

    Sou alma indomável ! Sempre o soube.

    E amo a chuva...a música... As flores !...

    Sou altiva ! Ou humilde ! Escondo as dores.

    Rio e falo comigo ! Ninguém me ouve.

 

    Lancei as sementes p'ra ser feliz.

    E busco a justiça. Enxergo a razão.

Momentos

Rubis rubros carnudos
Sonantes solfejos
Abraços apertados
Em ardentes cortejos!

Âmagos desnudados
Lânguidos beijos
De êxtases desfolhados
Pelo chão dos regozijos...

Eloquentes braços de flores
Voluptuosos, esplendidos...
De pétalas de amores!

Magníficos sabores
Sumarentos, diluídos
Em espuma de odores!

ÊXTASE

            ÊXTASE

 

Fui longe , ao caminhar naquele dia...

Morava a quietude onde cheguei !

Só o murmúrio da água se ouvia,

Corria sob a ponte que encontrei.

 

Intïma natureza se me abria !

Esmaeci ! Embeveci ! Voei !

Entreguei-me à mística, à fantasia !

Embriaguei-me de belo... Me enlevei !

 

Nessa contemplação, senti-me em graça !

O eco do amor encheu meu peito.

Desejei um futuro sem defeito.

 

É nessa doce paz  que Deus me abraça !

Ingratidão !

           Ingratidão !

 

Na tua voz, nada foi elogiado.

Sequer vi um  olhar de agradecido

Por tanto que fiz sem me teres pedido.

Ou p'lo que não fiz , quando merecido !

 

Fui pedra inquebrável...mas ferida.

Ou flor tristonha, frágil, delicada.

Quebrei longos silêncios...desolada.

Impedi tanta vez a  derrocada.

 

Quando olho p'ra trás, nem sei que vejo!!!

Doses absurdas de puro egoísmo !?

Ou esforços gratuitos d' heroísmo!?

 

Meu peito, guarda ainda o <tal> desejo!

Sinais eternos

            Sinais eternos

 

Sempre lado a lado, formando um par !

Bicam-se como jovens a beijar !

Ele, orgulhoso no seu emproar,

Vai-a seduzindo , p'ra  acasalar !

 

A pombinha branca age ignorando.

No chão do jardim, vai-se alimentando.

Ele, firmemente, a vai volteando

Até obter o que está cobiçando!...

 

Jardim de pombos e flores enfeitado !

De casais, que o amor vão libertando !

Alegria pura se vai soltando !...

 

Passarão gerações neste relvado

Desperdício

            Desperdício

 

Deixei passar mil sóis, despercebida...

Lua cheia que não me iluminou

A noite ! Decrépita... Enegrecida !

Nem reparei no tempo que passou !

 

Nessa indolente e vã monotonia,

Nem forte escarcéu me sacudia,

Afundada em desafeto e apatia,

A queda no fundo, tão fácil seria...

 

Mas sou rocha dura ! Não sou quebrada !...

Sou couraçada a duras investidas...

E trago em mim, visão mais alargada.

 

E despertei dum sono insalubre,

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