Soneto

Praia de fantasia

Descalça caminho na praia da fantasia
Divagando ao sabor das ondas do desejo
Completamente entregue a elas, embatendo na falésia
Suspirando por noticias como do farol o lampejo.

Olho o céu azul e nada vejo
Mas tudo existe, além do vazio horizonte
A Lua nua dança num festejo
E o Sol desce a poente...

O vento sopra sereno como bocejo
As nuvens desenham um azulejo
E as gaivotas poisam na areia com cortesia!

Marinheiros desfilam em cortejo
Sereias cantam em solfejo
Nas madrugadas frias de maresia...

SUCO DA VIDA

Traga-me um bom vinho ou qualquer coisa equivalente

Tragam-me dos ovos que se chocam sem um ninho

Tragam-me uma rosa ou até mesmo só um linho

Tragam-me um bom fruto nem que seja só a semente

 

Tragam-me um arbusto ou só um ramo de azevinho

Tragam-me um desejo ou só a vontade mais ardente

Tragam-me um espelho mesmo que seja transparente

Esqueçam tudo isso e só me tragam mesmo o vinho

 

E nas sombras dessa chama embriaga de amor

Onde brotam nossos pés já sem força ou equilíbrio

UM PASSO E OUTRO PASSO E ENTÃO SE FORMA UMA CANTIGA

Um passo e outro passo e então se forma uma cantiga

Por sob a luz do sol e por sobre a terra fria

Minha mão em tua cintura um mais que belo sonho cria

Na imagem da esperança a companheira mais antiga

 

A luz de tantos olhos nada mais contentaria

Não a nossa valsa, amiga ou inimiga

Na voz de tantas frases nada mais há que se diga

Nem o tom do nosso amor, nem o toque de alegria

 

Mas o que há por sobre o mundo que se dê maior valência

Quando vejo os teus olhos, quando sinto tua mão

ONDE NASCE UMA POESIA SEMPRE COMO POESIA VIVERÁ

Não me venhas de teu mundo que fulguras de anil

Pretendendo que eu vislumbre esse teu cântico naufrágio

Ao som das vozes tão vorazes que soletram nosso adágio

E por fim se dilaceram como um verbo mais senil

 

Não me digas que é honesto o teu folclórico sufrágio

Nem imponhas ao bom grado o que de fato seja vil

Velejando as correntezas que espargem cantos mil

Que não trazem mesmo nada e nem se alinham em presságio

 

Não me digas que é certeza o que não tem explicação

Brumas do desejo

Se teu corpo é a única Ilha no oceano
Como poderei eu não o desejar?
Quando à minha volta tudo é insano
E o meu coração, ninguém sabe amar!

Se a Lua se esconder em teu olhar
Como poderei eu encontra-la?
Quando a caravela no gelo encalhar
E a neblina teimar em abraça-la!

Como chá calmante de erva-cidreira
Anseio beber dos teus lábios um doce néctar
E, em teu coração mergulhar como numa banheira…

A brisa do desejo

Eu queria ser: a essência do teu perfume
A flor de pétalas coloridas da tua vida
Na tua lareira, ser brasa, ser lume
E, no teu cálice, uma sumptuosa bebida!

Na galáxia do teu Universo, a estrela mais brilhante
A luz do luar que entra pela tua janela
Nos teus braços, voluptuosa amante
Sob o reflexo cintilante da luz de uma vela!

Eu queria ser: em tua alma, a brisa fresca da aurora
No teu rosto, um jardim de sorrisos
E, na tua pele, carícia suave a qualquer hora.

Menina ... donzela !

    Menina... Donzela!...

 

Sei d' uma menina, jovem, formosa,

Em seu lindo traje, sensual, rendado.

De passo sereno e harmonioso,

Leva um tesouro... Ainda vedado !...

 

Seus lábios frescos da cor das romãs,

D' olhar tão doce ! ... Mas malicioso !

Perfume de flor, d' aroma a lilás,

Sorriso atraente e tão gracioso !

 

Vai desfilando e lançando charme.

Toda ela graça ! Causando espanto !

Despertando sonhos... Olhares em chama !

 

Menina donzela ! Segura e bela,

Transparência

               Transparência

 

     Se fosse de vidraça a minha alma,

     Saberiam que desejos encerra.

     Simples, banais... e não desejam guerra,

     Só ternos afagos em tarde calma !

 

     Minha alma muitas vezes soluçou.

     E chorou. Mas nem eu a vi chorar.

     A sorrir, cada vez se levantou.

     A cantar, voltou sempre a caminhar.

 

     E quem não conhece a alma d' alguém,

     Desconhece sua essência, seu ser.

     Não sabe dar. Não pode amar ninguém !

 

MÃE

    MÃE

 

SONHEI CONTIGO MÃE ! ESTAVAS TÃO PERTO !

CINTILAVA LUZ  AO REDOR DO ROSTO !

ERAS JOVEM, BELA ! SORRISO ABERTO !

EMITIAS O CALOR D' UM SOL-POSTO.

 

MAS SE DA TUA IMAGEM SÓ RETENHO,

A D' UM ROSTO CANSADO, SEM IGUAL,

D' UM CORPO FRÁGIL MAS DE FIRME EMPENHO,

 COMO TE VI ASSIM TÃO DIVINAL !?

 

EU CORRI PARA TI ! CHAMEI... M' OLHASTE!

E, SERENAMENTE, TU M'  ENVOLVESTE

DE TERNURA, D' AMOR , SEM ME TOCARES !

 

FORAM INSTANTES BREVES, ESBATIDOS.

Pages