Longínqua memória

Naquela distante esquina

 

Onde a morte encontra a vida,

 

Olhei o flagrante rosto de um velho

 

Mil rios sussurrantes salpicavam o seu olhar

Inebriante de cores infindas

As suas rugas exaltavam a dor

Que de mãos dadas comigo percorreram o caminho,

E na noite mais escura da minha alma

Abracei o mundo estendido no efémero sol

Que o meu sonho suavemente desenhou

Sentindo apenas o cristalino som que me preenche

E o vento nada me disse

O sino tocou sons de embalar

Saudando a vida a amanhecer

A exuberância do esplendor da natureza

Em mim verdejou

E imaculadas visões dos seus frutos

Que me abençoam com a sua presença

Tornando-me assim terra e flor,

Chilreantes pássaros que na sua voz entoam

E abençoam o silêncio que em mim habita,

Nostálgicos mas esfusiantes chamamentos

Que a natureza mãe me ecoa,

E laços profundos perpetuam esta dor

Então perguntei ao vento

E o vento nada me disse,

Encontra-me

Apenas o presente momento e a história por contar

Apetecendo-me escrevê-la em verso

Fazer um poema que de tão imaculado

Que pintalgasse a minha vida de cor violeta flor,

E o negrume medo que em mim paira

Desvanece-se no horizonte luminoso de vida

Onde tocam os meus sonhos permanentes,

E de dor coloridos nas vísceras do meu ser

Desenhados e sublimes permanecem em procura

Somente do teu ser por celebrar

E em mim padece por não te encontrar

A lembrança do desconhecer o caminho,

Caminhos percorridos

Por entre agrestes pedras e dourados sóis

O meu rosto com traços de melancolia desenhado

No exuberante voo das andorinhas que anseio reviver,

Brota em mim uma ancestral vontade

De à terra regressar e com ela me envolver,

Fadas e elfos em mim suavemente pousaram

E mil demónios em turbilhão me perderam

E no infinito horizonte que o meu olhar abraça,

Revejo toda a eternidade que não encontro

No caminho que percorro e que em mim palpita

Ofuscando as minhas vísceras de cor de esperança

Sorriso amargo

Apenas o fúnebre som que da minha alma ecoa
Encantando o meu ser de sentidas dores
Pois bebi deste cálice e senti tamanhas e imundas cruzes,
E apenas a tua voz acalma esta furiosa ânsia de vida
Acordando em mim o rugido do leão sedento de esplendor
Ergue a sua voz o meu guerreiro interior

do que somos feitos?

Afinal podemos dizer que sabemos do que somos feitos, fora a escrita?

 

Afinal nem tudo conhecemos!

Podemos inventar numa situação aflita:

Dizer!

Que apenas aconteceu,

Sabemos que não somos perfeitos?

Do futuro, ideias, imaginação: o céu!

Que mais do que escrever?

Somos aquilo que ficará por acontecer?

Feitos:

Fora: todos desfeitos!

A vida é o que já sabemos:

Escrita!

 

Afinal aflita!

Tudo conhecemos:

Somos perfeitos!

Tudo podemos inventar:

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