Sonho de Amantes

 

 

 

 

SONHO  DE  AMANTES

 

 

 

 

No areal que acolhe o meu corpo já cansado

Da sofreguidão de te amar e me doar

Sinto o arfar vindo do teu coração quente

E o teu corpo suado entrelaçado no meu.

Pétalas orvalhadas em marés vivas

Ladeiam nossos corpos mutilados

Aniquilados de sentires e medos

Cansados de desejos incontidos

Sou Mulher

 

 

 

SOU  MULHER

 

 

 

Sou mulher!

Sim, sou mulher!

Todos os dias de todos os meses, de todos os anos

Sou mulher!

 

Sou mulher, sou mãe, sou avó

Enfermeira, cozinheira, arrumadora

Amiga, amante, apaixonada

Companheira, vigilante,

Mas também sou carente e triste

Sorrio com lágrimas, e choro com sorrisos

Luto já vencida à partida, mas luto

(...)

 

Vive-se, sonha-se...

Acredita-se, inclusive...

Mas não se é feliz porque se sonha

E muito menos porque se vive.

 

É-se  feliz, normalmente, com prudência,

Tornando-se a felicidade, num mero sorriso tristonho...

Só os afortunados vivem-na, totalmente, por excelência,

A Dama de Negro III

III
EXISTÊNCIA
 
 
 
 
Dêem-lhe um corpo,
Formas perceptivas,
Alicerces que sustentam conteúdos.
E ela deixa de ser um ideal,
Traço ou miragem,
Que flutua nas profundezas mentais.
 
Esta prisão cerebral,
Só no mundo das ideias sei viver.
Viver apenas no cérebro
É uma existência demasiado silenciosa.
 
Triste viver sem existir –

A Dama de Negro II

II
VOZ
 
 
 
 
Escondida do mundo, escondida em mim.
E vivo assim, estou e não estou.
Como uma dama de negro
Eu sou.
 
Na toca escura, reprimo-me.
Enclausurada na minha prisão,
Nas minhas mãos a chave,
Mas estou trancada dentro de mim.
 
Triste é viver sem existir,
Dá-me vida. Dá-me corpo.
Ar e movimento,
Som e melodia.
 

A Dama de Negro I

I
INTROSPECÇÃO
 
 
 
Habitas a minha mente,
Há tanto tempo te concebes aí dentro,
Estás em mim antes de ter noção de ti,
E desenhei-te as formas todo o tempo...
 
A contemplar-te tenho estado,
Percorrendo os caminhos mentais,
Mil léguas íntimas tenho desvendado.
Olho e enxergo...
 
Ali jaz.
Embebida num cálice negro,
No covil da minh'alma,

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