Noitibós

Noitibós

Se eu pudesse falaria contigo de noite sentado junto a um rio, um rio que imaginaríamos juntos num sonho profundo, um sonho real, sim, porque os sonhos são reais, tudo é real, por isso existem palavras, sons, peixes, pássaros, pedras, peras, nozes, laranjas, canas, árvores, rios... e a voz da tua alma.

GUARDO

Guardo no olhar
o rasto de luz da tua pele
deixado pela minha boca,
o gemido rouco,
o abraço forte.

Guardo no olhar
o fogo dos teus olhos em súplica,
a ternura do teu toque,
o rendilhado dos afectos
e o teu sono, quase infantil depois do amor.

Guardo,
porque as memórias são pedaços de vida
mesclados por sons e sabores de momentos únicos;

PROCURO

Procuro no tempo,
o tempo em que o teu olhar
era a ampulheta dos sonhos
que sonhámos juntos.

Procuro no tempo,
o tempo em que do toque da pele
nascia a magia do entardecer
e no beijo trocado,
ternura aos pedaços
guardada na memória de dias errantes.

Procuro no tempo ,
o tempo em que na escuridão da noite
segui os teus passos
e na melodia do bater do coração te encontrei.

Procuro-te no tempo que foi
e no que há-de vir
porque sem ti na minha pele
não existe amanhecer.

QUASE

Incomoda-me o Quase,
a sua inconsistência,
a sua fraqueza, a forma inquieta como se esconde,
o que podia ter sido e não foi.

Incomoda-me o Quase.
Quase fui.
Quase fiz.
Quase consegui.
Quase amei.

Que quase é este que nos tolhe o sentir,
e me rouba a plenitude do Querer.

Incomoda-me o Quase
e por quase me sufocar
descarto-o do meu sentir.

Quero a plenitude do todo,
o excesso da entrega,
a loucura do desejo,
a quase morte do êxtase.

A LARGURA DO ÓCIO

a morte consiste num episódio que administra o crescimento emocional.

 

a contrastante realidade apalpando sempre as ilusões que a estimulam.

 

a deliberação de sair à procura dos eventos que constroem as querelas.

 

a mentira embaraça as comunicações para se nutrir aonde o chão é adverso.

 

as páginas mudam-se em lágrimas que ressumbram nas toalhinhas da consciência.

O mundo está perdido (parte VI)

Você não nasceu para sofrer
Não deixe seus sonhos se perderem
Não se dê a vida, viva ela.
Não se entregue as trevas
O mundo está em guerra
Tudo na miséria
Corpos jogados no chão
Ô povo sem paixão.
As ruas sem asfalto
Os colégios e hospitais caindo no chão
E quem tem razão?
Vivemos num mundo sujo, perdido
Mundo destruído
Pelo próprio ser de maior racionalidade que
Nele habita
O tal do ser humano que se
Auto desacredita.
O homem que evolui para pior
Sem piedade, sem dó

O NÚCLEO DA SOLIDÃO

o raciocínio foi categorizado com palavras que eu vomitei persistentemente.

 

os poemas enfeitados com escarpas resultam numa paisagem individual.

 

os coriscos capturam a minha atenção nos labirintos de choques indecorosos que vou destampando.

 

a verdade sobrepõe-se aos dislates que expandem o temporal pelo oceano da frivolidade.

 

rebentam as mãos dos fundadores de conflitos se agarram na enxada e laboram.

 

 

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