a admirável metamorfose
Autor: António Tê Santos on Sunday, 5 February 2017a ânsia de repercutir atrevimentos que possam moderar as narrações cruéis: torcemo-las e descobrimos as camadas de fealdade escapulidas aos parêntesis lunares.
a ânsia de repercutir atrevimentos que possam moderar as narrações cruéis: torcemo-las e descobrimos as camadas de fealdade escapulidas aos parêntesis lunares.
o infante traz consigo o bafio da paternidade interpondo-se entre ele e as suas prendas afetivas.
na textura humana apuram-se contingências que desesperam.
o fraseado das preleções gera diversas espécies de tédio.
quando o vulgar entendimento se transmuda em ideal.
as palavras libertam rumores aprovados pela consciência.
"[...] calço os saltos altos
e saio para a rua
numa noite escura, fria
Tenho por companhia
a solidão, minha amiga.
Despida de preconceito
mais a sorte esquiva
com quem me cruzo na via.
Debato-me com a tristeza
num beco sem saída
falando com pedras da calçada
duras, soltas
que cobrem o passeio
da esquina.
Reviro-me com o que me aprisiona
Ingratidão, agonia
que me deixa acorrentada
e me faz tropeçar nos buracos
de uma rua sem nome.
E me vejo perdida
Estou pronta, meu Senhor
Sussurram eles nas pedras feridas
Das montanhas embutidas a chorar
Gritos cheios de ecos vazios
Nos corpos suspensos pelos ombros
De olhos vermelhos esbugalhados
Com hálito amargo soltam as vísceras
Para a boca do inferno temem eles
Escondem-se de uma morte prematura
Nas suas imperfeições que é imortal
Entre os sonhos de pagãos prazeres
Em lírica numa voragem pureza insana
De devaneios, de caos, das labaredas
Eles não oram, muito menos pedem
Como posso ser lenta nas minhas palavras
Como posso ser desajeitada nas letras
Como posso ser trémula nos olhos inertes
Como posso impedir que o choro seja incontrolável
Como posso encontrar uma esperança perdida
Como posso sem a tua presença ser o caos
Como posso ser um desastre de tantos sentimentos
Como posso confundir os meus sentidos
Como posso eu que o tempo pare neste mundo
Como posso ser o sol, se tudo me é estranho
Como posso ter a luz dos teus olhos
Como posso ter os teus batimentos cardíacos
O tempo tira-me a vitalidade
Consome todos os dias, as noites
Rouba-me descaradamente os sonhos
Clareia-me os cabelos, dá-me rugas
Apesar de tantas pedras de fragas
Apesar de tantos espinhos
Apesar de tanta lama no caminho
Apesar do vento frio na cara
Apesar de tantas dificuldades
Apesar de tantas horas amargas
Apesar de tantas noites escuras
Apesar de tantas dores sentidas
Apesar de tanta ansiedade do nada
Apesar de tantas névoas no amanhecer
Apesar das presses feitas em silêncio
Amo-te, porque me permitiste amar-te
Amo-te, porque conseguiste beijar-me os lábios
Amo-te, porque sorriste para mim
Amo-te, porque despertaste em mim tudo «aquilo».
Amo-te, porque me fizeste suspirar
Amo-te, porque coloriste a minha vida.
Amo-te, porque essas cores ficaram no peito
Amo-te, porque a tua voz nunca mais me saiu da cabeça
Amo-te porque ouço o teu gemer no meu ouvido
Amo-te, porque a vida não é só preto e branco
Amo-te, porque alimentaste as cores que nos alimentam.
Amor
Amo-te no meu silêncio
Nem as flores do meu jardim sabem
Quem diria que o perfume das rosas
Seria o meu destino até ti
Nem as estrelas sabem
De mais uma noite triste e silenciosa
Nem a lua que se vê tão transparente
Sabe do meu amanhecer solitário
Amo-te em silêncio ?
Sem palavras, sem gestos
Sem que o vento e a chuva saibam
Só o meu silêncio que corta as dores
Da minha alma
Só eu sei que ninguém sabe que existem.