(sem título)

Encontrei a bicicleta do poeta.

O poeta, esse, mergulhou na espuma ondulante dos versos.

Deixou a bicicleta a assinalar, ali, o momento exacto em que o salpicou a rima.

Vou roubar-lhe. A bicicleta.

Monto nela e forço-me a pedalar o sal da poesia.

 

 
 

(sem título)

a sofística demência do poeta

expulsa-me da alma o sonho anunciado

e o poema cala-se-me na boca desiludida;

o presente é agora um feixe de folhas

brancas, sufocadas em palavras despidas

- talvez o verso 'inda se acuse,

por entre as estrofes magoadas

ao encontro da rima arrependida

que absolva as reticências glosadas

no capricho nietzschiano do poeta

 

ó musa cuspida no não sentido da palavra

inquieta! não me renuncies ao silêncio do mote acidulado!

recria-me agora no corpo das letras abandonadas!

Pages