verei agora
o que se passa em mim
se ainda há salvação
ou me baste resignar
se ignoro
os íntimos desconfortos
perante o ostensivo apelo
da irrealidade
ou se troco cada disfarce deles
por um traje vintage
cada expedita palavra
por um evasivo senão
há enigmas por interpretar nas peripécias que me desorientam; na montanha sagrada que trepo quando escrevo poesia; nos refrões ultrapassados que oiço quando me abeiro da intransigência humana.
fortaleço a minha têmpera quando renuncio às guerrilhas torpes que qualificam o mundanismo; quando realizo as minhas pretensões através de vigorosos pensamentos; quando afasto as nuvens pardacentas da minha arrogada solidão.
há tribunas onde se gera a idolatria daqueles que removem do espírito o bom-senso; onde se silencia a razão e se fomenta a desventura; onde se patrocinam as injúrias e as acusações injustificadas.
o instante é linha extensa
que contorna os limites
do céu
é cordão de miragens
que sustenta
as paragens do azul
forjado neste anil
se incrusta no Páramo
como parábola traçada
no irremediável
revelando, inconteste
toda sua efemeridade
saboreio a vida abrigado das disputas funestas; dos complexos afetos das mulheres; da gente transviada que me pisou; das farpas aguçadas que despedacei; dos cavos horizontes da sensaboria.
Livro. PFC. 2023.
valorizo tudo aquilo que conquistei na penumbra do meu
ócio; nas catacumbas duma existência ressentida;
no recrudescer da alegria implícita no meu versejar;
na magnífica essência da minha solidão.
