Bonito Serviço

Vim da anilha alhada em pólen
O plástico é ninho de centopeias
Onde nascem as bactérias do cólon
Arborizam ramadas de gotas cheias
 
Estou num parafuso embrulhado
Abrindo intempéries de caracol
Onde colmeias orvalham piado
Cinzeiro luz nesga de girassol
 
Espalho-me no muro da colmeia

NÃO VÁS AINDA

Pouso o olhar no teu rosto cansado
Não preciso dizer nada, conheces-me como ninguém
Com passos incertos e vacilantes
Levas-me até ao velho sofá da sala
Acaricias-me os caracóis, como fazias em criança
Enquanto deixo correr em teu colo,
Meu pranto…
Cada ruga no teu rosto tem uma história,

UM MINUTO

              UM MINUTO

    Um minuto de silêncio,

        vale por mil dias.

O silêncio e a sabedoria são casados e

gera filhos quando estão com saúde.

A sabedoria e a prudência são irmãs,

Onde está uma, também está a outra.

   Há momentos que boca fechada...

        Não entra mosquito!

 

Autora: Madalena Cordeiro...

Aves

1)      Voam as aves das manhãs boreais,

Voam fugidias dos tempos temporais,

Vão inexatas por vales e montanhas

Por onde só a tristeza as acompanha.

 

Oh pequenas aves de promessas fáceis

Cabe ao destino dos seus dias padecer

E tão apavorado o seu futuro,

Pobre de ti destinada a morrer

 

Deixe que as bravas asas te carreguem

Pra onde apenas litorais te enxerguem

E te definam perfeita criação

De merecer é a sua condição

SOLETRO SEMPRE

Soletro esta minha inquietude
No nevoeiro da redonda terra
Entre a insensatez dos espinhos
Rosas que perfuram a carne branda
Pálpebras exaltadas no corpo
Devastação do fogo nas madrugadas
Há uma gestação feita de medo
No sangue derramado das palavras
Pétalas de mentira nas lágrimas de sangue
Delírio dos olhos nas palavras impróprias
Cobertas estão as portas na falácia da morte
Sepultura feita de ouro no vicio, na voz
Nas pétalas das rosas cruas de um quadro

GUARDADOR DE SONHOS

Estou cansada de agradar de aceitar de negar
Já chorei no deserto para repousar os olhos
Lágrimas caídas no arenoso já seco terreno
Em novelos de lá deitei os brancos cabelos
Abri o corpo nas searas quentes perdidas
Adormeci a sombra nos ramos dos chuopos
Acordei sacudida de gotículas da leve chuva
Molhei a minha alma nos frescos orvalhos
Ardi no forno de lenha entre a fornalha de pão
Recolhi-me nas asas das pétalas de rosas
Quantas vezes quis eu dormir ao relento

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