Canto da liberdade

Canta, bem-te-vi o meu solstício,
dai graças de cantar, meu amor,
Vai! Canta, grita, e sem martírio,
canta minh’alma ou de quem for.

Vai como vento, e sem temor,
fuja da gaiola e bique o ar,
saboreie o vento duma flor:
assopro aquém ali ou do mar.

Sua vida não tem azar,
não tem noite, não gasta grana,
nenhum cansaço pra se estar,
apenas o canto que o afana.

Fait accompli

Consumou-se a noite num carrasco silêncio redundante e supérfluo
Tão melífluo quanto aquele breu perdido no cardápio do tempo dulcífluo
Tão pérfido quanto um lamento permutado por angustiantes uivos impudicos
 
Consumado o tempo alimentou as entranhas desta solidão indulgente

PORTO PERTO DE MIM

 

 

 

agora é só eu e mim

ancorado no porto do fim

pronto a devastar-me

em dúvidas

pronto para aviltar o mundo

-e daí?

se me ignoro ou me dou amor

-é somente isso?

(larvas e xisto

na xícara de café)

-que mais poderia ser?

senão:

uma lesma perplexa

no mormaço da tarde

ou um simples alarde

que me anuncie

todo o fascínio do mundo

 

 

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