A Filha

Não a fiz. Fizeram-na os anjos.
Não a embalei. Tampouco lhe afastei
Os monstros do armário, as sombras da noite
e o terror da bruxa do açoite.
Não lhe acompanhei à primeira aula,
ao primeiro jardim e ao teatro sem fim.
Não sonhamos juntos o brilho da estrela
que se avista na infância primeiro.
Caminhos e destinos repartidos, levaram-nos.

Nossos

Ao longo da vida seguimos destinos,
escolhido ou não,
não importa cada um tem o seu.

Ao longo da vida conhecemos pessoas,
escolhidas ou não,
partilham trilhos do caminho.

Ao longo da vida perdemos uns,
encontramos outros,
escolhidos ou não.

Mas há aqueles que ficam
e no percurso do destino levamo-los connosco,
mesmo já longe,
perdidos no passado serão sempre nossos,
escolhidos para sempre.

um sonho

Permaneço hoje aqui
nesta promíscua cabana
onde tu e eu nascemos
Existe um objectivo
meta final, fim
O FIM
Praia ofuscante
noite
alimentação sistemática
do desregramento de todos os sentidos
Modificadores de consciência
levam-te pela estrada de coral
até ao palácio da sabedoria
Aí vive O Rei
Homenzinhos de fatinho escarlate
acampam
nos teus jardins privativos

sonho

Era noite.
Na escuridão, cintilavam pequenas estrelas.
Abriam-se e fechavam-se os olhos castanhos
daquele rosto alegre.
Ouviu-se, no meio daquela noite quente, o miar de
um gato perdido! no momento, caíra em cima da
minha cama uma violeta, tal qual os olhos, aqueles
olhos sensuais que me prendiam!
Fui convidado a amar...
Perdi o senso do lugar,
o senso do momento e perdi-me na noite...
E amei!...

a ti

Aproximação, silêncio total
Sangue, sexo
Pesadelos nas ruas de néon
Extensos desertos
Um refúgio
Lá fora, o apelo da boémia
Um mar de asfalto
Não, não vou só
Uma garrafa de gin e um cigarro
Para apaziguar as dores
A escrita é meu refúgio
Minha alegria, minha dor
Vivo constantemente
Num ritmo alucinado
Estou só
Nas entrelinhas de cada frase
Está o corpo que as gerou

Meiga noite

Refaço os passos,

Mudo de rumo.

O norte pode estar no sul.

Há coisas estranhas entre o céu e a terra,

Entre a terra e o mar,

Entre você e eu.

Não havia nada, 

Apenas um cigarro moribundo no cinzeiro,

E o teu silêncio a me atormentar.

 

Na mansidão dos teus lábios,

Encontrei o meu melhor recanto.

E fui jogado ao canto,

Ao pensar em perder-te.

E perdido encontrei teu encanto,

No sorriso que desabrochava,

No teu silencioso canto.

 

Questões sem resposta

“Questões sem resposta”
Pela noite dentro escreves palavra a palavra,
dás cada passo, a cada voz que ouves na tua alma,
uma memória à distância de um guiar nessa estrada,
tanto frio está,nessa beleza de acentuar e te deixa desamparada.

Cocktail explosivo num terno sabor a absinto,
teu beijo com sabor a licor nos teus lábios que sinto,
essa chama de fogo ardente num sorriso,
num querer esquecer mas o controle é fraco e indeciso.

Pages