Sem Título 1

Livram-se de súbito
árvores dormidas
no barlavento
de mágoas íngremes
frente aos cotovelos
que te desprendem
ao sorriso
desses rios passageiros.
 
Mais à noitinha
a sua curva de ervas doiradas
desvairam-se longamente
cheias de cheiros graves e furtivos.
 
Ganham voo esquecido
mesmo que emparelhados
atrás do cesto de frutas a escorregar

Além, Muito Além das Areias Desse Mar

Oi! Num peixe de asas eu quero então voar
Navegar no céu azul até onde você for
Abandonar as estrelinhas e viver no teu amor
Além, muito além das areias desse mar

Oi! Nas lágrimas do mundo é que eu quero navegar
E beijar de uma flor todo o carinho que tiver
Na doçura de sua pele ou no perfume de mulher
Além, muito além das areias desse mar

Na Valsa da Tempestade

A luz de tua ira ilumina o meu caminho

A fúria de teus mares sim me leva muito além

O rancor de tua tormenta só me serve muito bem

É apenas água doce que me serve com carinho

 

Tuas ondas de agonia me transportam para o céu

E o eco do teu grito me permite flutuar

Contra a batida de teu peito ainda posso navegar

E contra o brilho de teu olho velejar como se ao léu

 

E é na queda de teu tom que resplandece a melodia

Que brada forte o meu nome e me torna uma lenda

Nua

       Solidão...

      és tu que estas comigo quando estou deitada no meu escuro e vazio espaço?

      Solidão...

      és tu que me fazes sentir oca, muda a cada meu pequeno passo?

      Solidão...

      és tu que me sussurras quando vagueio sozinha pela rua?

Talvez

Talvez com um pouco de sorte

Talvez alguns dias do futuro sejam brandos

Talvez um homem chegue a Marte

Talvez Israelenses e Palestinos peçam perdão

Talvez a ONU assuma suas responsabilidades

Talvez o dinheiro perca mais valor

Talvez alguém me telefone

Talvez quem sabe eu a veja na cidade

Talvez aquelas luzes sejam da cidade onde vou

Talvez este avião finalmente pouse

Talvez eu veja alguém no desembarque

Talvez eu tenha febre hoje a tarde

Talvez eu consiga terminar este poema

Jazz da Meia Noite

Toca o jazz da meia noite.
Jiggy jiggy, jizzy jazz...
Cigarro a evaporar na ponta dos dedos.
Blues da morte,
Música de má sorte...
Batidas lentas, dinâmica forte.
Súbito saxofone que me rasga em dois,
Que me congela a alma
Da mais profunda calma.
Improvisos solados, ascendentes,
Entre outros tão decadentes...
Montanha russa de melodias
A aquecer-me as noites frias.
Bateria a marcar compasso
Com o escárnio odioso
Com que pelo mundo passo.
E o contrabaixo, lá do seu alto,

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